Centro de Dublin, capital da Irlanda (Wikimedia Commons/EXAME.com)
Da Redação
Publicado em 2 de dezembro de 2014 às 15h32.
Dublin - Sentada em um centro comunitário em Tallaght, um amplo distrito da classe trabalhadora no sopé das montanhas de Dublin, Debbie Byrne vê poucos sinais de estar vivendo na economia de mais rápido crescimento da zona do euro.
O governo está “tentando dizer que as coisas estão melhorando”, disse Byrne, 38, uma dona de casa que ajuda pessoas que estão sofrendo com o aumento do tráfico de drogas e com uma taxa de desemprego que está subindo acima da média nacional. “Mostre para mim onde as coisas estão melhorando nessas áreas. Tem gente que passa fome”.
Quase um ano depois de a Irlanda deixar o programa de resgate internacional existe um descontentamento crescente entre as pessoas, porque elas não sentem conexão com os números econômicos e com os preços dos bonds que dizem a elas que o pior já passou.
O resultado é que os irlandeses estão se somando à falange de europeus que está migrando para partidos políticos que antes eram marginais do ponto de vista eleitoral.
Desiludida com os líderes que ela ajudou a colocar no poder na eleição de 2011 na Irlanda, Byrne coloca a si mesma entre os apoiadores do Sinn Fein, o partido que para muitas pessoas nos anos 1980 e 1990 era o braço político do Exército Republicano Irlandês, que lutava contra o governo britânico na Irlanda do Norte.
Liderado por Gerry Adams, um político que é sinônimo mais do conflito em Belfast do que do Parlamento em Dublin, a oposição aos aumentos de impostos, aos cortes de gastos e ao pagamento de detentores de bonds em bancos estatais transformou o Sinn Fein no partido mais popular da Irlanda, segundo uma pesquisa publicada no mês passado.
Não haverá eleição antes de 2016, mas na semana passada o primeiro-ministro Enda Kenny começou a definir as linhas de batalha, alertando que um governo liderado pelo Sinn Fein anularia todo o progresso de recuperação da economia e das finanças da Irlanda.
Caminho político
Discursando após uma reunião do Conselho Britânico-Irlandês nesta semana, Kenny perguntou aos eleitores se eles queriam um governo liderado pelo Sinn Fein, “que tinha o potencial de arruinar todas as conquistas que o país havia conseguido, insistindo na ideia de que o povo não tinha que pagar nada”.
Há dois dias o ministro das Finanças, Michael Noonan, chamou o Sinn Fein de “partido de impostos e gastos cujas políticas econômicas prejudicariam severamente a economia”. Gerry Adams respondeu exortando o governo a convocar uma eleição antecipada.
“A próxima eleição será sobre o caminho que a nossa sociedade seguirá”, disse ele, em um comunicado. “Será de mais austeridade e política ruim dos partidos conservadores ou vamos aproveitar a oportunidade para ter uma nova política?”.
Gerry Adams e outros líderes do Sinn Fein não responderam aos pedidos de entrevista.
Aumento da popularidade
Cinco anos atrás, o Sinn Fein ganhou 15 por cento dos votos nas eleições locais no distrito de Tallaght, mais conhecido como lar de infância do capitão da seleção irlandesa de futebol, Robbie Keane. Neste ano, o partido obteve 40 por cento e se tornou o maior em Dublin.
“As pessoas olhavam para o Fine Gael e para o Partido Trabalhista, que estavam oferecendo uma alternativa”, disse Brendan Ferron, parlamentar do Sinn Fein no distrito, eleito em maio. “Alguns meses depois, elas descobriram que esses partidos afinal de contas não haviam oferecido nada diferente”.
O governo sob o comando de Kenny seguiu em grande parte o modelo estabelecido pelo acordo de resgate, introduzindo um imposto sobre propriedades, tarifas de água e mais cortes de gasto. O governo diz que a estratégia está funcionando. A Irlanda deixou seu resgate em dezembro, a economia está crescendo novamente e o desemprego está caindo.
Eamonn Maloney, parlamentar do Partido Trabalhista em Tallaght que tem visto o apoio migrar para o Sinn Fein, disse que seu partido deveria ter desafiado antes as condições do resgate da União Europeia, do FMI e do Banco Central Europeu, conhecidos como troika.
“Havia uma desconexão entre o governo, o gabinete e a troika a respeito de quanto sofrimento os cidadãos poderiam aguentar”, disse Maloney. “Se você perder de vista as dificuldades pelas quais as pessoas estão passando, você está acabado”.
Em Tallaght, esse é o resultado que Byrne quer em 2016 ou antes: o Sinn Fein no poder.
“Eles estão fazendo promessas e estão cumprindo”, disse ela. “Essa é a diferença”.