Economia

Políticos e analistas minimizam aviso do FMI à Argentina

"A ideia do FMI é protestar e dizer que não está de acordo com a maneira como a Argentina realiza suas estatísticas", disse Carlos Cúneo, analista da consultora Maxinver


	Christine Lagarde: a Argentina não aceita revisões de sua economia desde janeiro de 2006
 (Jason Reed/Reuters)

Christine Lagarde: a Argentina não aceita revisões de sua economia desde janeiro de 2006 (Jason Reed/Reuters)

DR

Da Redação

Publicado em 25 de setembro de 2012 às 17h59.

Buenos Aires - O Fundo Monetário Internacional (FMI) não chegará ao extremo de dar o cartão vermelho à Argentina, como advertiu sua titular, Christine Lagarde, caso o governo de Cristina Kirchner mantenha suas questionadas estatísticas de inflação e crescimento, disseram analistas e políticos argentinos nesta terça-feira.

"A ideia do FMI é protestar e dizer que não está de acordo com a maneira como a Argentina realiza suas estatísticas, mas não é o caso de expulsão, ainda mais em um contexto de crise internacional", disse à AFP Carlos Cúneo, analista da consultora Maxinver.

Segundo Cúneo, os mercados também não apostam em uma decisão extrema do FMI, cuja diretora-gerente comunicou que o organismo deu o "cartão amarelo ao país" e deu prazo até dezembro para que o conflito fosse resolvido. "Uma medida contra o país sul-americano afetaria os investidores", disse Cúneo.

O Instituto Nacional de Estatística e Censos (Indec), que intervém no país desde 2007, diz que em 2011 a inflação na Argentina foi de 9,5%, mas as consultoras privadas consideram que o custo de vida cresceu 22,8%.

Este mês expirou o prazo de 180 dias que o FMI deu a Argentina para resolver o problema, mas nenhum país foi sancionado nos 68 anos do organismo por causa da qualidade de suas cifras.

O governo argentino não realizou comentários sobre o discurso de Lagarde.

Já o economista e deputado da oposição argentina, Claudio Lozano, disse que "se o FMI fosse sério, já teria dado o cartão vermelho às estatísticas do Indec e afirmou que o organismo financeiro está se "fazendo de tonto" ante as "mentiras" do governo para que a Argentina pague a seus credores.


"O governo está mentindo (sobre) a taxa de crescimento deste ano", afirmou. "O FMI sabe disso, mas não questiona suficientemente os dados porque espera que o país pague 4 bilhões aos credores", completou.

Lozano aludiu a um bônus cujo rendimento está atado à evolução do Produto Interno Bruto (PIB), o mais aceito entre os investidores, que em 2011 avançou mais de 14% em sua série em pesos, enquanto que o denominado em dólares gerou lucros de 34%.

O governo de Kirchner estima uma taxa de crescimento de 3,4% para este ano e para 2013 o cálculo é de 4,4%, segundo o Projeto de Lei do Orçamento, sendo que desde 2003 o PIB vinha crescendo a um ritmo de 9% anual, salvo em 2009, quando subiu apenas 0,9%.

"Caso esta discussão avance, o FMI pode chegar a sancionar a Argentina, mas seria um equívoco pensar que temos que fazer as coisas porque o Fundo assim o pede. A Argentina precisa ter soberania em política econômica", disse o ex-presidente do Banco Central, Martín Redrado.

Já o ex-vice-ministro de Economia, Jorge Todesca, disse que a "Argentina, ao ter claramente distorcido suas estatísticas de preços e prolongado isso com o tempo, gera um problema de harmonia com os demais países do FMI e isso é o que está sendo exposto.

A Argentina não aceita revisões de sua economia desde que em janeiro de 2006 o falecido ex-presidente Néstor Kirchner (2003/2007), esposo e antecessor de Cristina Kirchner, pagou a dívida de 9,5 bilhões de dólares com a entidade multilateral.

O país, no entanto, aceito em seguida uma missão técnica do FMI para a elaboração de estatísticas confiáveis.

Acompanhe tudo sobre:América LatinaArgentinaFMIPolítica

Mais de Economia

'Quanto mais demorar o ajuste fiscal, maior é o choque', diz Campos Neto

Manifestantes se reúnem na Avenida Paulista contra escala 6x1

Presidente do Banco Central: fim da jornada 6x1 prejudica trabalhador e aumenta informalidade

Ministro do Trabalho defende fim da jornada 6x1 e diz que governo 'tem simpatia' pela proposta