Standard & Poor's: "há considerável incerteza política no Brasil e na Venezuela" (AFP/Stan Honda)
Da Redação
Publicado em 24 de janeiro de 2016 às 09h26.
Londres - O Brasil deve continuar sendo afetado por escândalos políticos e uma recessão em 2016, afirma a agência de classificação de risco Standard & Poor's (S&P). A previsão é que no país e em outros da América Latina, como a Venezuela, o conturbado cenário político doméstico seja um fator que vai pesar este ano na avaliação do rating soberano.
"Há considerável incerteza política no Brasil e na Venezuela", afirma o diretor da S&P que faz parte da equipe que avalia a América Latina, Joydeep Mukherji, em um vídeo divulgado pela agência de classificação de risco junto com um relatório sobre perspectivas para a região em 2016.
Mukherji ressalta no vídeo que a S&P vai avaliar o desdobramento da situação política no Brasil e na Venezuela e em outros, como na Argentina, que elegeu um presidente mais amigável ao mercado. "Vimos significativa mudança na Argentina", disse ele.
Para a América Latina como todo, o diretor diz que serão avaliados o impacto de dois fatores em 2016, o crescimento mais lento da economia mundial e a queda dos preços das commodities. Países como México, Chile e Colômbia têm sofrido com a queda das cotações, disse ele.
A S&P projeta que o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil deve encolher "pelo menos" 2% em 2016, no segundo ano consecutivo de recessão. Para 2017, a previsão é de expansão de 1,2%. Ambos os números estão melhores que a média do mercado.
Nesta semana, o Fundo Monetário Internacional (FMI) divulgou relatório com revisão para baixo nas projeções do Brasil. A nova estimativa é que o país deve encolher 3,5% este ano e ficar estagnado em 2017.
"O Brasil vai sofrer com escândalos políticos e uma crise econômica continuada", afirma a S&P no relatório. O documento alerta que a recessão brasileira pode afetar a redução na pobreza na América Latina.
A taxa vinha caindo até 2012, depois ficou estagnada nos três anos seguintes e pode aumentar em 2016.
A desigualdade, que caiu no Brasil e em outros países da região, também pode voltar a crescer.
A S&P ressalta que a combinação, sobretudo na economia brasileira, de fraca atividade econômica com pressões fiscais pode reverter os ganhos na redução da disparidade social.
A necessidade de melhorar as contas públicas, destaca o relatório, pode afetar os gastos sociais e as provisões para os serviços públicos.
A S&P avalia 28 países na América Latina, dos quais 13 são considerados graus de investimento. A maioria dos países na região tem perspectiva estável, mas cinco, incluindo o Brasil, Venezuela e Barbados, têm perspectiva negativa, ou seja, a nota pode ser rebaixada em 2016.
Apenas um país tem perspectiva positiva, o Paraguai. No ano passado, apenas três países tiveram a nota melhorada, Uruguai, República Dominicana e Jamaica.
Na América Latina, 15 países são classificados no grau especulativo, entre eles, o Brasil, que passou para a categoria em 2015 ao ser rebaixado em setembro, destaca Mukherji no vídeo. A Argentina tem a pior nota da região, na categoria default. O Chile tem a nota mais alta, "AA-".