Solo ressecado em Bragança Paulista: atores socioeconômicos são decisivos para estabelecer vulnerabilidade de população e sua capacidade de adaptação (Nacho Doce/Reuters)
Da Redação
Publicado em 28 de março de 2014 às 19h34.
Yokohama - Uma noção bastante divulgada sobre as mudanças climáticas a fim de sensibilizar governantes a agir é que elas são democráticas - já estão atingindo e vão continuar afetando o mundo inteiro, sem exceção.
O novo relatório do painel do clima da ONU (IPCC) que será divulgado no final do mês confirma esse cenário, mas deixa bem claro que os impactos dependem muito do grau de preparação de cada país para lidar com a questão. E aí os mais pobres ou as populações mais vulneráveis tendem a ser muito mais prejudicados.
É o que se observa no segundo volume do relatório, que trata somente do impactos regionais. De acordo com uma versão preliminar do "Sumário para Formuladores de Políticas", documento mais político que acompanha o relatório, os riscos vão variar através do tempo e de país para país.
De acordo com o relatório, países em desenvolvimento e comunidades rurais tendem a ser os mais atingidos por causa de impactos para a produção de alimentos, meios de subsistência e as economias locais.
Nesta parte, o documento distingue o nível de confiança de cada risco, partindo do médio para o muito alto, de modo a orientar governantes sobre onde pode ser melhor agir primeiro.
As características físicas são determinantes (por exemplo, se uma região já é afetada por tempestades ou secas), mas fatores socioeconômicos são decisivos para estabelecer a vulnerabilidade de uma população e sua capacidade de adaptação.
"A vulnerabilidade aumenta não só pelo clima, mas por fatores não climáticos, como o planejamento urbano, por exemplo", comenta o pesquisador argentino radicado no Brasil José Antonio Marengo, do Instituto Nacional de Mudanças Climáticas (Inpe).
Autor líder do capítulo sobre América Central e do Sul, ele é o único representante do Brasil no grupo que define o "Sumário para Formuladores de Políticas". Os mais afetados serão os mais pobres e, entre eles, as mais vulneráveis são as mulheres. "Em muitos casos, elas não saem de casa, não veem quando está subindo uma enchente ou um deslizamento de terra", comenta Marengo.
Brasil
Para o país, analisado dentro do bloco de América do Sul, fica claro o aumento já observado da média anual de chuva no sudeste (0,6 mm/dia de 1950 a 2008).
Apesar de parecer um contraste com o cenário de seca que a região está vivendo, o dado tem de ser visto como uma média. Além disso, há um agravante.
Boa parte dessa chuva tende a cair de uma vez só, em grandes tempestades, causando inundações e deslizamentos - e não chega a ser armazenada. Em outros dias, há pouca ou nenhuma chuva, o que pode dar a noção de seca, mesmo sem o volume total cair.
Para o Nordeste, o IPCC volta a reafirmar o risco de aumento da aridez. A disponibilidade de água deve diminuir com a redução das chuvas e aumento da evapotranspiração nas regiões semiáridas.
Cerrado
Uma versão preliminar do relatório completo, que também está circulando na internet, traz alguns alertas para a Amazônia e o Cerrado brasileiro.
O texto comenta que "mudanças no uso da terra contribuem significativamente para a degradação ambiental, exacerbando os impactos negativos das mudanças climáticas".
Os cientistas reconhecem que o desmatamento na Amazônia está em queda, mas lembram que o do Cerrado segue crescendo. "A expansão da agricultura, em algumas regiões associadas a um aumento da precipitação, tem afetado ecossistemas frágeis, como as fronteiras da floresta amazônica e os Andes tropicais."