Economia

Piora da meta fiscal não prejudica recuperação, dizem analistas

Na véspera, o governo anunciou novas e maiores metas de déficit primário, que subirão a 159 bilhões de reais neste e no próximo ano

Meirelles: "A reação do mercado foi, como esperado, manter a complacência com a crise fiscal", disse economista do banco Fator (Pilar Olivares/Reuters)

Meirelles: "A reação do mercado foi, como esperado, manter a complacência com a crise fiscal", disse economista do banco Fator (Pilar Olivares/Reuters)

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Reuters

Publicado em 16 de agosto de 2017 às 17h46.

São Paulo- A piora nas metas fiscais para os próximos anos não vai gerar impacto negativo na atividade econômica do Brasil ou reverter as expectativas de recuperação gradual, algo que acontecerá se o governo não conseguir levar adiante a reforma da Previdência, essencial para o ajuste das contas públicas.

"A reação do mercado foi, como esperado, manter a complacência com a crise fiscal e seu encaminhamento pelo governo", disse o economista-chefe do banco Fator, José Francisco Gonçalves, que vê o Produto Interno Bruto (PIB) do país crescendo 0,4 por cento neste ano e 1,7 por cento em 2018.

Na véspera, o governo anunciou novas e maiores metas de déficit primário, que subirão a 159 bilhões de reais neste e no próximo ano, confirmando a tendência de deterioração das contas públicas, que pode ser ainda pior caso o Congresso Nacional não aprove medidas impopulares que foram apresentadas para limitar o rombo e aumentar as receitas.

Entre elas, a reoneração da folha de pagamento de empresas e a elevação da contribuição previdenciária por funcionários públicos.

Diante da piora das contas públicas revelada pelo próprio governo, a aprovação da reforma da Previdência ficou ainda mais essencial agora, segundo os especialistas consultados pela Reuters. Não só porque ajudará a controlar as contas públicas, mas também manterá o caminho livre para o Banco Central continuar reduzindo a taxa básica de juros e, assim, baratear o crédito e estimular o consumo e investimentos.

"A preocupação maior é com a reforma da Previdência que, se não ser aprovada, trará a percepção de risco crescente para o novo regime fiscal em 2018, no meio de uma eleição (presidencial) muito conturbada", disse o economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale.

De acordo com o último relatório Focus do Banco Central, que colhe a avaliação de uma centena de analistas todas as semanas, a expectativa é que a Selic --hoje em 9,25 por cento-- encerre este ano em 7,50 por cento e permaneça nesse patamar em 2018. Para o PIB, depois de dois anos seguidos de recessão, a expectativa é de alta de 0,34 e 2 por cento em 2017 e 2018, respectivamente.

"Se você conseguir bancar as reformas, você limpa o principal risco econômico que existe hoje, que é de a dívida ficar impagável. Dessa forma, o juro pode cair mais e de forma sustentável, o que significa mais crescimento sem gerar inflação", afirmou o economista do banco Itaú, Pedro Schneider.

A economia brasileira também tem a seu favor agora o bom momento do mercado internacional, que limita a visão mais pessimista sobre a situação fiscal. A economia mundial tem crescido acima das expectativas, o que torna maior o apetite por riscos e favorece economias emergentes, como a brasileira.

"O mercado está anestesiado pelas condições externas favoráveis, mas a questão é que não sabemos até quando esse movimento vai continuar", afirmou a economista e sócia da consultoria Tendências, Alessandra Ribeiro.

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