Apesar das restrições aplicadas para a contenção do coronavírus, as atividades setoriais, como de serviços, varejo e indústria tiveram baques menores do que o esperado (Jonne Roriz/Bloomberg/Getty Images)
Fabiane Stefano
Publicado em 1 de junho de 2021 às 06h00.
Última atualização em 1 de junho de 2021 às 17h42.
Nesta terça-feira, 1, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulga o Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre do ano. Apesar do recrudescimento da pandemia em março, economistas esperam que a taxa da atividade econômica para os três primeiros meses de 2021 registre crescimento.
A avaliação é de que, apesar das restrições aplicadas para a contenção do vírus, as atividades setoriais, como de serviços, varejo e indústria tiveram baques menores do que o esperado, o cenário se repita nos números do PIB, que reúne toda a atividade econômica do país.
"Devemos ver neste número alguma resiliência do Brasil, a despeito de ainda estarmos no furacão da pandemia", avalia a economista chefe do Banco Ourinvest, Fernanda Consorte.
Mesmo com a piora da pandemia, a percepção é de que a população se isolou menos durante a segunda onda, aponta o economista-chefe da Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento (Acrefi), Nicola Tingas.
"O que está acontecendo e vários analistas já estão falando é que de fato, apesar da segunda onda ser mais forte do que a primeira, as pessoas estão se expondo mais, mas com muito mais máscara agora do que antes", destaca.
Se o cenário se concretizar nos números divulgados hoje, as projeções para o PIB ao final de 2021 também podem ser elevadas pelo mercado. Na segunda, o boletim Focus do Banco Central já registrou otimismo, com o aumento da expectativa do mercado para a atividade econômica no ano de 3,52% para 3,96%.
Caso os dado mostrem um crescimento do PIB do primeiro trimestre de 0,96%, a estimativa da Exame Invest Pro, o braço de análise de investimentos da Exame, é de que a economia cresça 4,4% neste ano.
"Surpresas com o primeiro trimestre podem promover uma mudança substancial nas projeções do PIB para o ano evidenciadas na mediana do mercado", avalia o economista da Exame Invest Pro, Arthur Mota.
Tingas trabalha com cenário parecido e afirma que pode revisar projeção para 4,6% a depender dos números de hoje. "Quando o ano começou, a expectativa, já com o recrudescimento da segunda onda, era que esse PIB fosse ser negativo e talvez o do segundo trimestre também. Há cerca de dois meses se falava na possibilidade de recessão técnica, que são dois trimestres de PIB seguidos de queda", afirma.
"Isso é uma grande mudança nas expectativas e também no comportamento dos agentes econômicos", avalia.
Apesar disso, ele lembra que, por conta da queda do PIB do país em 2020 de 4,1%, números de crescimento próximos a esse valor para este ano apenas representariam um retorno ao "ponto inicial" de onde o país saiu antes da pandemia.
O crescimento também tem se dado de maneira heterogênea nos diferentes setores, aponta o economista. O principal setor que tem puxado a alta é o da indústria. A reação dos serviços e comércio, avalia, já iniciou, mas está ainda defasada. "Quem está tomando ritmo agora é a indústria, com recomposição de estoques, o setor agroindustrial, com exportações", ressalta.
O Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), que considera o nível de atividade da indústria, comércio, serviços e agropecuária, havia registrado crescimento de 2,3% no primeiro trimestre.
Apesar do otimismo para o crescimento econômico, o risco de uma 3ª onda de contaminações pela covid-19 nos próximos meses segue trazendo incerteza para o cenário do restante do ano.
As previsões do mercado, aponta Fernanda, trabalham com cenário de avanço da vacinação que reduza efeitos de uma piora sanitária. "Tivemos um cenário tão ruim nessa segunda onda e as medidas de restrição não acompanharam. Acredito que a 3ª onda deva ser dessa mesma forma", avalia. "O que o mercado trabalha é com o avanço da vacinação. Conforme ela for acontecendo isso tende a regredir, mas a gente segue com um nível de incerteza muito grande", aponta.
O economista da Acrefi atenta para o fato de que, apesar da expectativa ser de crescimento, isso não significa uma melhora homogênea para as diferentes camadas sociais. "Há desigualdade, tanto na recuperação econômica, como também na social. Estamos aumentando muito a pobreza, a pandemia está tendo um efeito muito maléfico sobre a distribuição de renda, aumentando a desigualdade. Muitas, milhares de empresas quebraram no ano passado. Temos uma concentração maior na economia", avalia.
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