Profissionais da Saúde atuam em favelas durante pandemia de coronavírus (picture alliance / Colaborador/Getty Images)
João Pedro Caleiro
Publicado em 29 de maio de 2020 às 16h42.
Última atualização em 29 de maio de 2020 às 17h17.
As expectativas para a economia brasileira se deterioraram com a divulgação, nesta sexta-feira (29), dos resultados do PIB do primeiro trimestre.
Houve queda de 1,5% em relação ao trimestre anterior, já incorporando o agravamento da pandemia e as medidas de isolamento social a partir de março. No entanto, os piores números devem vir no segundo trimestre, onde a queda deve superar 10%, com recuperação ao longo do segundo semestre.
Em relação ao resultado do ano fechado, algumas previsões já se aproximam de uma queda de 8%. Se confirmados, significariam que a recessão acumulada em 2015 e 2016 se materializaria novamente no país, mas agora concentrada em um único ano.
O cenário sem precedentes, de uma crise global causada por uma nova doença e de uma reabertura ainda incipiente sem a doença estar controlada, torna a previsão de cenários especialmente desafiadora.
"Há uma dispersão de dados, quando se fala em PIB entre analistas, por causa da incerteza do tamanho do impacto na economia", diz Lucas Carvalho, analista da Toro Investimentos.
Na ponta mais otimista do mercado, o Itaú manteve hoje sua projeção de queda em -4,5% e a Ativa Investimentos em -5%.
A projeção média do mercado, expressa no Boletim Focus do Banco Central e divulgado na última segunda-feira, antes do resultado do IBGE, era de 4,86%.
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto disse hoje que a queda do PIB no ano seria no patamar de 5% ou mais, ligeiramente acima da projeção oficial do governo, que é de retração de 4,7%.
Já o Ibre/FGV revisou a sua projeção de -5,4 para -6,5% com base na fraqueza do índice "Outros Serviços" deste trimestre.
Na ponta mais pessimista das instituições está a consultoria MB Associados, com projeção de -7,8%, o banco UBS, com -7,5% e a Guide Investimentos, que manteve projeção e queda de -8%.
"Qualquer coisa entre 7% e 11% de contração é possível, porque as incertezas são grandes e das mais variadas", diz João Rosal, economista-chefe da Guide Investimentos.
A Daycoval também revisou seu número, de -5% para -7%, com base no dado de hoje e outras avaliações: "é uma soma dos fatores duração da quarentena, medidas tomadas em relação à crise até aqui, níveis de incerteza maiores que no resto do mundo", diz Rafael Cardoso, economista-chefe da instituição. Já o banco americano Goldman Sachs revisou a sua projeção de -7,4% para -7,7%.
"O número do primeiro trimestre de 2020 veio em linha com nossa expectativa, mas as revisões para baixo do resultado do segundo semestre de 2019 afetaram nossas projeções para o ano cheio", escreve Alberto Ramos, chefe de pesquisa macroeconômica para América Latina do banco.
Alguns analistas destacam também que a ausência de uma estratégia coordenada para conter a doença, assim como o acirramento da crise política, afetam a confiança dos agentes, turvam o cenário futuro de reformas e retardam a velocidade de retomada econômica.
Mesmo com o ceticismo do mercado, o ministro da Economia, Paulo Guedes, segue confiante de que as condições estão dadas para uma recuperação acentuada.
“Caímos rápido, e a volta depende de nós mesmos. Falo em (retomada em) V porque os sinais vitais da economia estão mantidos, mas evidentemente, dependendo de nossa reação pode ser um U ou L”, disse Guedes. “Prefiro trabalhar com V, pode ser meio torto, com subida um pouco mais devagar”.
Instituições e casas de análise | Previsões para o PIB de 2020 |
---|---|
Ativa Investimentos | manteve em -5% |
Daycoval | revisou de -5% para -7% |
4E | manteve em -6,1% |
Guide | manteve em -8% |
Goldman Sachs | revisou de -7.4% para -7.7% |
Ibre | revisou de -5,4 para -6,5% |
Itaú | manteve em -4,5 |
BNP Paribas | manteve em -7% |
MB Associados | manteve em -7,8 |
Tendências | manteve em -4,1%, mas divulga revisão na segunda |
Toro Investimentos | manteve em -6,1% |
UBS | manteve em -7,5% |
XP | manteve em 6% |