EUA: o número representa uma desaceleração frente a os 3,5% registrados no trimestre anterior (foto/Getty Images)
Estadão Conteúdo
Publicado em 27 de janeiro de 2017 às 16h21.
São Paulo - A perda de impulso da economia dos Estados Unidos nos últimos três meses de 2016 significa apenas um retorno a um ritmo mais compatível com o Produto Interno Bruto (PIB) potencial do país e não deve ser encarado com muito pessimismo, afirmam analistas de bancos e consultorias.
Dados divulgados hoje pelo Departamento de Comércio mostraram que a economia norte-americana expandiu a uma taxa anualizada de 1,9% entre outubro e dezembro. O número representa uma desaceleração frente a os 3,5% registrados no trimestre anterior - ritmo mais forte desde em dois anos.
"O avanço da economia no quarto trimestre foi mais suave - como amplamente esperado - mas isso não significa que a desaceleração é uma tendência nos próximos meses", afirmou Jim Baird, da Plante Moran Financial Advisors.
"Por anos, o motor do crescimento tem sido o consumo das famílias, e elas continuam bem posicionadas para gastar cada vez mais", afirma o analista em nota a clientes, acrescentando que a confiança das empresas está em patamares altos e que os próximos meses serão "esclarecedores" para sabermos qual o grau de aderência entre as promessas de campanha do presidente Donald Trump e seu programa de governo.
"Precisamos ter cautela ao tentar ler demais na desaceleração do PIB, uma vez que o crescimento de 3,5% do trimestre anterior foi beneficiado pela forte exportação de soja, um impulso que desapareceu no trimestre seguinte", nota Paul Ashworth, da Capital Economics.
Apesar do dado mais fraco, o analista nota que o PIB do segundo trimestre cresceu a uma taxa anualizada de 2,7%, contra 1,1% nos primeiros seis meses e "bem acima da taxa de crescimento em potencial".
Johnny Bo Jakobsen, do Nordea, chama a atenção para o fato de que a expansão de 1,9% continua acima da estimativa do próprio Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) para o PIB potencial dos EUA, que está em 1,8%, além de ficar próxima da média anual de crescimento registrado desde a crise financeira de 2008, de 2,1%.
"Assim, embora a composição do crescimento no 4º trimestre tenha vindo mais frágil que o esperado, o dado do PIB não altera nossa estimativa de que o Fed vai fazer duas elevações este ano, sendo que a primeira acontece em junho", afirma.
"Dada a preocupação do governo Trump com o déficit comercial, esperamos que os números de hoje sejam um grande assunto na Casa Branca", nota Joshua Shapiro, da MFR.
"Nossa leitura do PIB do 4º trimestre é que ele sublinha a força do componente doméstico, o que naturalmente atrai mais importações, ao mesmo tempo em que faz uma correção dos números inflados de exportações do trimestre anterior. Nesse sentido, acreditamos que o déficit comercial tirou um pouco o brilho da solidez da economia no quarto trimestre, assim como tinha exacerbado no período anterior."