Economia

PIB do 2º tri deve indicar que o fundo do poço da crise não será tão fundo

Expectativa de economistas é de uma queda de 10% na atividade econômica no segundo trimestre, metade do previsto no início da pandemia

Complexo petroquímico na Bahia: o resultado do segundo trimestre de 2020 deve ser melhor do previsto no início da pandemia (Eduardo Moody/Divulgação)

Complexo petroquímico na Bahia: o resultado do segundo trimestre de 2020 deve ser melhor do previsto no início da pandemia (Eduardo Moody/Divulgação)

LB

Leo Branco

Publicado em 1 de setembro de 2020 às 06h00.

Última atualização em 1 de setembro de 2020 às 07h27.

Uma dúvida que vem pairando sobre as conversas virtuais entre economistas, empresários e gente de governo nos últimos meses deve ter uma resposta nesta terça-feira, 1º de setembro: quão profundo será o poço da crise econômica provocada pelo avanço da pandemia do novo coronavírus no Brasil?

Às 9h da manhã, o IBGE divulga o PIB brasileiro para o segundo trimestre de 2020. A expectativa é de um tombo ao redor de 10% na comparação com o primeiro trimestre de 2020. "O resultado vai mostrar o lado mais agudo da crise econômica", diz Bruno Lavieri, economista da consultoria 4E, que prevê um tombo de 10,3%.

Será uma consequência direta das regras de isolamento social implantadas com mais força no País entre abril e julho – justamente o período coberto pelos indicadores a serem revelados pelos técnicos do IBGE nesta terça.

Ao mesmo tempo, olhando o copo meio cheio, o resultado do segundo trimestre deve ser melhor do previsto no início da pandemia. “Nossa expectativa, de queda de 9,7% em relação ao primeiro trimestre, é quase metade do projetado quando a crise começou”, diz Sergio Vale, economista-chefe da consultoria MB Associados.

Por trás da surpresa nos resultados estão três fatores. O primeiro é o fato de a quarentena no Brasil ter sido leve em comparação ao lockdown implantado em boa parte dos países desenvolvidos. Com isso, o País viu um avanço acelerado do vírus – são quase 4 milhões de infectados e 120.000 mortes, o segundo pior resultado do mundo, só atrás dos Estados Unidos. Ao mesmo tempo, a economia manteve aqui um ritmo mais intenso de atividade do que o visto lá fora.

Somado a isso, a injeção de mais de 200 bilhões de reais em auxílio emergencial a autônomos sem renda durante a crise e a alta das cotações de matérias-primas exportadas pelo Brasil, como minério de ferro e grãos, atenuaram o efeito da quarentena – e, em particular no interior do país, movido pelo agronegócio. “O fundo do poço poderia ter sido ainda mais fundo, mas não foi”, diz Vale.

Ao mesmo tempo, os resultados do segundo trimestre são um olhar no retrovisor, indica Arthur Mota, economista da EXAME Research. O motivo: desde maio, a atividade no Brasil está ganhando força – sobretudo no varejo, beneficiado direto do auxílio emergencial. Além disso, o afrouxamento das regras de isolamento social devem estimular o consumo até o fim do ano, segundo o economista.

O anúncio desta terça, no entanto, vai ser vital para entender o rumo da economia no ano inteiro. “O resultado é importante para calibragem dos números de PIB para o ano inteiro”, diz Mota. Com um tombo menor que o esperado, a projeção para 2020 deve também ser menos ruim.

A expectativa de Mota é de uma queda de 9,2%, pouco mais otimista à média do mercado: -9,5% segundo o Boletim Focus, do Banco Central. “Para 2020 ainda temos uma previsão de queda de 5,6%, um pouco pior do que a mediana do Focus, mas podemos revisar em setembro”, diz.

Os números ainda estão longe, bem longe, de indicar alguma recuperação ao nível de atividade do início do ano. Ainda assim, deverão ser um alento a quem espera o pior dos mundos quando a pandemia chegou.

Acompanhe tudo sobre:Banco CentralExame HojeIBGEPandemiaPIB do BrasilRiqueza

Mais de Economia

Presidente do Banco Central: fim da jornada 6x1 prejudica trabalhador e aumenta informalidade

Ministro do Trabalho defende fim da jornada 6x1 e diz que governo 'tem simpatia' pela proposta

Queda estrutural de juros depende de ‘choques positivos’ na política fiscal, afirma Campos Neto

Redução da jornada de trabalho para 4x3 pode custar R$ 115 bilhões ao ano à indústria, diz estudo