PEQUIM, CHINA - 1º DE JANEIRO: Os soldados da guarda de honra do Exército de Libertação do Povo (PLA) realizam a cerimônia de hasteamento da bandeira na Praça da Paz Celestial no dia de ano novo em 1 de janeiro de 2021 em Pequim, China. (VCG/Getty Images)
AFP
Publicado em 18 de outubro de 2021 às 06h31.
Última atualização em 18 de outubro de 2021 às 06h33.
O crescimento econômico da China registrou uma desaceleração mais significativa que o esperado no terceiro trimestre, no momento em que o país sofre uma crise energética e o setor imobiliário enfrenta políticas mais rigorosas, revelaram os dados oficiais divulgados nesta segunda-feira (18).
A recuperação da segunda maior economia mundial perdeu força após a rápida retomada posterior à pandemia, com um crescimento de 4,9% do Produto Interno Bruto (PIB) em ritmo anual no terceiro trimestre, anunciou o Escritório Nacional de Estatísticas (ONS).
O resultado ficou abaixo das previsões 5% dos analistas consultados pela AFP e representou uma desaceleração após o avanço de 7,9% no período de abril a junho.
"Devemos considerar que estão aumentando as incertezas no cenário internacional e que a recuperação econômica interna ainda é instável e desigual", afirmou o porta-voz do ONS, Fu Linghui.
"O crescimento foi afetado por uma queda no setor imobiliário, amplificado recentemente pelos problemas da Evergrande", explicou Louis Kuijs, diretor para Economia Asiática da Oxford Economics.
As dificuldades da gigante imobiliária Evergrande, que acumula dívida de mais de 300 bilhões de dólares, afetaram o ânimo dos possíveis compradores do setor.
O Banco Central da China, no entanto, afirmou que qualquer impacto da Evergrande será controlável. O presidente da instituição, Yi Gang, afirmou no domingo em um seminário que as autoridades estão atentas aos problemas com um possível não pagamento de algumas empresas. Yi também afirmou que o PIB chinês deve crescer quase 8% este ano.
Kuijs, porém, destacou que o país sofreu um "golpe adicional em setembro" com os apagões e cortes na produção devido a uma aplicação estrita das metas climáticas e de segurança por parte dos governos locais.
Ele explica que o problema foi visível na queda da produção industrial, que desacelerou a 3,1% na comparação anual até setembro. "O PIB frágil do terceiro trimestre reflete uma combinação de fatores negativos, como interrupções na cadeia de abastecimento", comentou Rajiv Biswas, economista chefe para Ásia-Pacífico do IHS Markit.
Analistas da Fidelity International disseram que, embora os temores do setor imobiliário estejam no "epicentro do choque", o obstáculo econômico é exacerbado pelo problema de energia, por fechamentos regionais e a estratégia de "covid zero", que atingiu o setor de serviços. "A única surpresa no resultado do PIB chinês é que não foi ainda menor", declarou Paras Anand, diretor de investimentos para Ásia-Pacìfico da Fidelity.
O racionamento de energia elétrica das últimas semanas, o crescente custo das matérias-primas e as medidas climáticas do governo provocaram uma redução das atividades de mineração e manufatureira.
Ao mesmo tempo, as vendas no varejo cresceram 4,4%, contra 2,5% em agosto, com a suspensão de algumas medidas de contenção sanitária no país, que provocaram fechamentos de emergência em algumas áreas afetadas pelo vírus.
A taxa de desemprego urbano alcançou 4,9% em setembro.
O governo chinês tenta calibrar a economia para orientá-la mais aos consumidores e menos para o investimento e as exportações.
Mas as autoridades precisam manter um equilíbrio delicado entre o apoio ao crescimento e conter a inflação, diante do aumento mais acelerado nos preços de fábrica dos últimos 25 anos.
A demanda continua forte, mas fatores como o clima extremo e os focos de covid - além da crise energética e o abalo do mercado imobiliário - provocaram a desaceleração econômica chinesa, destacam os analistas.