O IBGE ainda revisou para baixo a expansão do PIB no quarto trimestre de 2011 sobre o terceiro, de 0,3 para 0,2 por cento (Kiko Ferrite/EXAME)
Da Redação
Publicado em 1 de junho de 2012 às 16h10.
São Paulo - O fraco desempenho da economia brasileira no início deste ano foi um balde de água fria nas expectativas já pouco animadoras tanto do setor produtivo quanto do mercado, e até levou o próprio governo a abaixar o tom sobre a recuperação que, de forma mais forte, deve acontecer apenas no segundo semestre.
"O segundo semestre certamente terá um crescimento maior do que o primeiro... Podemos atingir no segundo semestre taxa (anualizada) de crescimento de 4 a 4,5 por cento", disse a jornalistas o ministro da Fazenda, Guido Mantega.
De acordo com dados divulgados nesta sexta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Produto Interno Bruto (PIB) do país cresceu apenas 0,2 por cento no primeiro trimestre deste ano, quando comparado com o quarto trimestre de 2011. Em relação ao mesmo período do ano passado, a expansão foi de 0,8 por cento.
O IBGE ainda revisou para baixo a expansão do PIB no quarto trimestre de 2011 sobre o terceiro, de 0,3 para 0,2 por cento, mas apesar disso manteve a expansão de todo o ano passado em 2,7 por cento.
"Foi praticamente uma estabilidade. Não dá para falar em crescimento com uma taxa de 0,2 por cento", resumiu a economista do IBGE Rebeca Palis.
O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, falou em recuperação "gradual" e afirmou que a intensificação do ritmo da economia deve ocorrer "ao longo deste ano", ressaltando que a demanda doméstica continua sendo o principal suporte da economia.
"O crescimento do PIB...confirma que a recuperação da atividade econômica tem sido bastante gradual.", afirmou Tombini em nota divulgada pela assessoria de imprensa do BC.
Já a presidente Dilma não comentou publicamente o resultado do PIB, que foi atingido em cheio sobretudo pela atual crise internacional. Nas contas do governo, a expansão da atividade deve ficar na casa de 3 por cento neste ano, bem abaixo das contas iniciais de 4,5 por cento.
Segundo um assessor de Dilma, a presidente também compartilha da ideia de que a economia estará crescendo, de forma anualizada, na casa de 4 por cento na segunda metade do ano.
Outro assessor que também pediu para não ser identificado disse que há uma série de novas medidas em estudos finais na área econômica e que o governo está longe de esgotar as ações para estimular o crescimento.
Preocupação
O mau resultado do trimestre passado, segundo o IBGE, veio do setor agropecuário -que caiu 7,3 por cento no trimestre passado por conta da estiagem nas regiões Sul e Nordeste- e também pelos investimentos.
A Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) -uma medida de investimento- recuou 1,8 por cento no trimestre passado, ante o quarto trimestre de 2011, a menor variação trimestral desde o primeiro trimestre de 2009. A taxa de investimento em relação ao PIB ficou em 18,7 por cento, enquanto um ano antes ela estava em 19,5 por cento.
A equipe econômica tem mostrado preocupação com a taxa de investimento privado no país e, por isso, indica que vai continuar dando estímulos para garantir a recuperação econômica. O alvo tem sido o setor industrial, que continua patinando.
O setor produtivo, no entanto, ainda mostra muita preocupação e pede mais ação do governo. O presidente da Fenabrave, associação que representa as concessionárias de veículos, Flavio Meneghetti, disse esperar um crescimento PIB de apenas 2,5 por cento e que a recuperação venha mesmo só a partir do segundo semestre.
Já para o presidente-executivo da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), Fernando Figueiredo, o resultado de agora acende "a luz amarela", visão compartilhada pelo setor varejista.
"O resultado mostra que não estamos bem. O PIB deste ano não vai crescer muito, não vem um número bom, apesar das medidas que vêm sendo tomadas", afirmou o presidente da Associação Brasileira de Supermercados (Abras), Sussumu Honda.
Para o ex-secretário de Política Econômica e consultor do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Júlio Gomes de Almeida, a queda no investimento é reflexo "do medo das empresas em relação a expectativas ruins lá de for a e aqui dentro".
"Há uma crise no investimento e se o governo for adotar medidas para enfrentar a estagnação da economia terá que incentivar o investimento", disse.
O governo tem adotado diversas ações de estímulos, como a redução da Selic ao menor nível histórico -de 8,50 por cento ao ano-, desonerações fiscais e liberação de mais crédito.
A última medida foi definida na quinta-feira, quando o governo elevou a alíquota do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), entre outros, de motos importadas ou que não sejam produzidas na Zona Franca de Manaus para proteger os fabricantes no país.