Economia

Pesquisa indica queda de 26% nas cargas de caminhões por coronavírus

Queda do volume de carga indica desaceleração de setores do agronegócio, do comércio geral e de grande parte da indústria

Rodovia BR 381 em Betim, Minas Gerais
24/02/2015 (Washington Alves/Reuters)

Rodovia BR 381 em Betim, Minas Gerais 24/02/2015 (Washington Alves/Reuters)

R

Reuters

Publicado em 26 de março de 2020 às 15h16.

Última atualização em 27 de março de 2020 às 20h31.

O Brasil registrou uma queda de 26% no volume de cargas transportadas por caminhões nos dias 23 e 24 em relação ao movimento normal antes das medidas contra o coronavírus, que determinaram o fechamento de várias empresas e serviços não essenciais, de acordo com pesquisa realizada pela associação de empresas de transporte NTC&Logística.

O levantamento, com quase 600 transportadoras, mostrou ainda queda de 29,8% no transporte de cargas fracionadas, que atendem distribuidores, lojas e supermercados; e redução de 22,9% em cargas lotação, que ocupam toda a capacidade dos veículos, demonstrando desaceleração de setores do agronegócio, do comércio geral e de grande parte da indústria.

Considerando apenas o agronegócio, segmento classificado pelo governo como essencial e isento de restrições, a queda na demanda por transporte é de 11,5%, pressionada mais por produtos perecíveis, como flores e hortaliças, uma vez que o escoamento da safra de soja tem garantido firmeza na procura por caminhões que transportam grãos, disse à Reuters o responsável pela pesquisa, Lauro Valdivia.

"Esse número inclui todos os produtos do agronegócio, não é só grãos. Inclui flores, que parou. Mas a gente sabe que o agronegócio, o transporte de grãos não parou", afirmou.

O Brasil, maior exportador global de soja, está transportando uma safra recorde para os portos, com o mercado internacional, especialmente a China, na expectativa de fluxos constantes neste período de colheita, até porque o país asiático precisa repor estoques enquanto sua atividade industrial é retomada após a crise do coronavírus.

OUTROS SETORES

Em carga de lotação, a pesquisa apontou que maior recuo no transporte de produtos da indústria de embalagens, de 55,3%, seguida por redução na movimentação de produtos da indústria automobilística, que caiu 37,6%, em meio a férias coletivas de várias empresas.

O levantamento indicou ainda redução de 16,2% no transporte de produtos não refrigerados da indústria alimentícia, queda de 20,7% para refrigerados; e de 18,60% para comércio e supermercados.

Valdivia explicou que falta demanda para transporte da maioria dos setores, mas destacou que também há problemas de falta de pagamento, o que faz com a transportadora deixe de realizar novos serviços.

"Tem situações que a gente nem imagina, um grande cliente disse que 'não ia pagar'; aí ou transportador falou, 'se não vai me pagar, não vou retirar cargas", comentou o especialista, explicando que muitos clientes de transportadoras, devido ao fechamento de comércios e empresas, estão sem recursos para honrar pagamentos, mesmo de fretes fechados antes da crise.

Segundo ele, mais de 50% dos clientes estão dizendo para transportadores que não têm recursos para pagar faturas anteriores. "Dizem que não têm condições, não têm caixa, se a quarentena perdurar, isso vai trazer mais problemas."

Ele comentou que os dois principais custos do transportador (combustível e mão de obra) são pagos praticamente à vista, o que deixa as empresas que transportam em situação difícil, se não recebem faturas anteriores.

As limitações para formar cargas fracionadas, de caminhões que transportam produtos essenciais e outros não essenciais, como roupas, também é uma dificuldade do setor.

Entre as soluções seria a postergação de pagamentos de impostos, comentou Valdivia.

"O pessoal está pedindo para prorrogar prazo de pagamentos de impostos, mas, com relação ao volume de cargas, só quando voltar mesmo."

O transporte de produtos do setores químico e agroquímico viu recuo menos acentuado, de 7,9%, enquanto o único segmento que registrou aumento foi a indústria farmacêutica, ainda assim uma alta modesta de 0,84%.

O presidente da NTC&Logística, Francisco Pelucio, ainda ressaltou em nota que há setores que continuam sendo abastecidos. "Não houve recuo na entrega de medicamentos. As farmácias estão sendo atendidas", destacou.

A ideia é de que o índice de transporte seja semanal até o final da crise.

Acompanhe tudo sobre:CaminhõesCoronavírus

Mais de Economia

BNDES vai repassar R$ 25 bilhões ao Tesouro para contribuir com meta fiscal

Eleição de Trump elevou custo financeiro para países emergentes, afirma Galípolo

Estímulo da China impulsiona consumo doméstico antes do 'choque tarifário' prometido por Trump

'Quanto mais demorar o ajuste fiscal, maior é o choque', diz Campos Neto