Roberto Campos Neto: "Previmos uma redução do PIB em torno de 5% neste ano e uma recuperação superior a 4% em 2021" (Amanda Perobelli/Reuters)
Estadão Conteúdo
Publicado em 2 de setembro de 2020 às 10h57.
Última atualização em 2 de setembro de 2020 às 16h35.
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse nesta quarta-feira, 2, que, apesar da retração de 9,7% do PIB no segundo trimestre do ano, o resultado da economia brasileira no 3º trimestre será melhor. "Estamos vendo a economia recuperar, os dados mais recentes - das últimas cinco semanas - mostram que estamos começando essa recuperação.
Apesar da queda de 9,7% do PIB, a agricultura continuou tendo resultados positivo, e nunca parou. Os serviços ficaram um pouco piores do que esperávamos, e a indústria veio dentro das expectativas", afirmou, em participação no evento virtual "Emerging & Frontier Forum 2020", organizado pela Bloomberg.
Para 2021, Campos Neto repetiu que a expectativa é de um crescimento do PIB superior ao projetado. Ele ressaltou, porém, que o desempenho no próximo ano depende também do cenário externo. "Previmos uma redução do PIB em torno de 5% neste ano e uma recuperação superior a 4% em 2021", disse.
O presidente do BC afirmou ainda que na instituição há um grupo que reduziu a estimativa em 2020 e aumentou em 2021. "E temos outro grupo que projeta uma recuperação forte", disse.
Campos Neto defendeu que recuperação da economia tem que ser inclusiva e sustentável em todos os lugares do mundo. "Vemos muitos países falando na criação de novos programas de renda, em investimentos sustentáveis do ponto de vista do meio ambiente, e em fomento ao desenvolvimento de novas tecnologias", afirmou.
No caso do Brasil, Campos Neto destacou a importância da inclusão na retomada, já que a pandemia afetou a renda dos mais pobres. "Também precisamos mostrar ao mundo que estamos comprometidos com a sustentabilidade", completou.
No cenário pós-pandemia, acrescentou o presidente do BC, será preciso definir qual serão papel do Brasil no novo comércio global. "As pessoas precisam comer, e nossa agricultura continua crescendo. A agricultura coloca o Brasil em diferente posição em relação a outros emergentes", concluiu.
O presidente do Banco Central também disse que a autoridade monetária não trabalha com nível de preço para o câmbio e que poderá intervir "pesadamente" caso ache necessário.
Ele lembrou que, em algum momento no caminho do dólar para o patamar de 6 reais, houve a avaliação interna de que o câmbio estava descolado. O BC iria intervir mais pesadamente e se preparou para tanto, mas a moeda norte-americana começou a se estabilizar e voltar em direção aos 5 reais.
Segundo Campos Neto, se os mesmos problemas de disfuncionalidade identificados no passado forem novamente vistos, o BC estará pronto para agir "pesadamente".
Sobre a volatilidade cambial, ele reiterou visão já externada de que o BC não dispõe de instrumento válido para lutar contra o movimento. O BC segue estudando os fatores que estão provocando a volatilidade, completou ele, citando a realização de mais contratos pequenos e o uso do real como hedge.
O presidente do também pediu a aprovação da autonomia do Banco: "Esperamos que a independência do Banco Central seja aprovada pelo Congresso ainda neste ano"