O combate ao furto é um desafio complexo e multidimensional que exige uma abordagem integrada. (Dado Galdieri/Bloomberg)
Estadão Conteúdo
Publicado em 26 de março de 2017 às 09h40.
Brasília - Todos os dias, um volume de energia suficiente para iluminar todo o Estado de Santa Catarina e seus 7 milhões de habitantes é roubado da geração elétrica nacional. São mais de 15 milhões de megawatts de energia que, por hora, escorrem pelos cabos das ligações clandestinas, os famosos "gatos", que só em 2015 geraram prejuízo superior a R$ 8 bilhões.
Os dados apurados por novo estudo do Instituto Acende Brasil, especializado no setor elétrico, expõem o tamanho do rombo financeiro que, no fim das contas, acaba sendo cobrado dos consumidores que mantém suas contas e instalações em ordem. Isso ocorre porque as distribuidoras trabalham com margem de preço suficiente para arcar com as diferenças entre a energia que compram das usinas geradoras e aquela que efetivamente faturam para seus usuários. Caso contrário, correriam risco de ir à bancarrota.
Na média, o roubo elétrico suga diariamente 5% da produção nacional de energia. A diluição, golpe dado por milhões de instalações clandestinas, ajuda a ofuscar o tamanho do estrago. Os R$ 8 bilhões furtados em 2015 e que não chamam a atenção da população superam, com folga, os R$ 6,2 bilhões que a Petrobrás teve de declarar em baixas contábeis no mesmo ano, por conta da corrupção escancarada pela Operação Lava Jato, da Polícia Federal.
"Há um problema moral nisso tudo. A sociedade acaba tolerando uma situação dessas como se fosse natural, porque se trata do que se costuma chamar de pequeno furto. Mas quando observamos a dimensão do problema que é produzido, encaramos como a realidade do setor é assustadora", diz Claudio Sales, presidente do Acende Brasil.
Aos golpes, soma-se o peso da inadimplência. Clientes que somam mais de dois anos de atrasos no pagamento da conta de luz geram prejuízo de mais R$ 3 bilhões por ano. Somados com os gatos, chega-se a um rombo de R$ 11 bilhões.
As distribuidoras da região Norte do País concentram o maior número de fraudes. A Amazonas Energia (AME), controlada pela estatal Eletrobrás, vê regularmente 32,5% da energia que lança pelas linhas de transmissão do Estado ser consumida por instalações ilegais. Na Companhia de Eletricidade do Amapá (CEA), esse volume foi de 28,1% em 2015.
O baque mais agressivo das fraudes é sentido pelo Rio de Janeiro. A Light, uma das maiores distribuidoras do País, entrega energia para 4,2 milhões de clientes. Outras 1,75 milhão de unidades de consumo, porém, (sejam consumidores formais da empresa ou não) roubam energia diariamente dos postes cariocas. Na Baixada Fluminense, conforme números da própria empresa, 40% da carga são desviadas por golpes. As fraudes consomem ainda 30% do que chega até as zonas Norte e Oeste do Rio.
Do total da energia distribuída na área de concessão da empresa, 23,4% é furtada, o equivalente aos 6 mil megawatts consumidos por todas as residências do Espírito Santo. Nos cálculos da Light, se todos esses furtos fossem eliminados, a tarifa de energia no Rio cairia 17%.
As maracutaias têm sobrecarregado as distribuidoras do Rio e, segundo a Light, provocado interrupções no fornecimento. "Entre os dias 22 e 31 de janeiro a Light atendeu 30 mil chamados em razão de interrupções", declara a empresa. Apesar de o maior número de ligações irregulares ser nas favelas, é nas mansões e nos bairros nobres do Rio que ocorrem os maiores assaltos elétricos.As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.