Economia

Percentual de idosos que trabalham nos EUA é o dobro de 1985

Falhas nas redes de proteção social, planos de previdência inadequados e altos gastos com saúde complicam a vida de idosos americanos

Idoso em feira de empregos (arquivo): pela 1ª vez em 57 anos, taxa de participação na força de trabalho por pessoas em idade de aposentadoria passa marca de 20% nos EUA (Patrick T. Fallon/Bloomberg)

Idoso em feira de empregos (arquivo): pela 1ª vez em 57 anos, taxa de participação na força de trabalho por pessoas em idade de aposentadoria passa marca de 20% nos EUA (Patrick T. Fallon/Bloomberg)

Ligia Tuon

Ligia Tuon

Publicado em 23 de abril de 2019 às 06h00.

Última atualização em 23 de abril de 2019 às 06h00.

Da mesma forma que as famílias com uma só fonte de renda foram desaparecendo no século passado, muitos idosos dos EUA estão desistindo da aposentadoria. O motivo é o mesmo: falta dinheiro. Falhas nas redes de proteção social, planos de previdência inadequados e gastos astronômicos com saúde fazem com que a perspectiva de parar de trabalhar seja mais temida do que desejada.

Pela primeira vez em 57 anos, a taxa de participação na força de trabalho por pessoas em idade de aposentadoria ultrapassou a marca de 20 por cento, segundo um novo estudo da gestora de recursos United Income.

A parcela da população com mais de 65 anos que trabalha ou busca ocupação remunerada dobrou desde o início de 1985, quando atingiu o piso de 10 por cento. O maior salto foi observado entre os que têm diploma universitário: 53 por cento estão no mercado de trabalho, comparado a 25 por cento em 1985.

Com isso, a renda anual média de trabalhadores dessa faixa etária subiu para US$ 78.000, 63 por cento maior do que os US$ 48.000 registrados em 1985 (com ajuste para a inflação). Já para os trabalhadores com menos de 65 anos, o aumento na renda anual média no período foi de apenas 38 por cento, para US$ 55.000. Os cálculos da United Income se baseiam em dados recém-publicados pelo Censo e pelo órgão responsável por estatísticas trabalhistas dos EUA (BLS).

Entre os mais idosos, observa-se um descompasso entre quem mais precisa de dinheiro e quem tem condições de trabalhar e está ocupado, enfatizou Elizabeth Kelly, que já atuou como assistente especial do Conselho Nacional de Economia da Casa Branca durante o governo Barack Obama e hoje é responsável por operações na United Income.

“São os indivíduos com mais escolaridade, mais dinheiro e mais saúde que continuam trabalhando, mas provavelmente são os que têm menos escolaridade, da classe operária, que mais precisam trabalhar”, disse Kelly.

Pelas estimativas do BLS, a geração Baby Boomer (nascida entre 1946 e 1964) será responsável pelo maior crescimento na participação na força de trabalho pelo menos até 2024. “Em 2024, os baby boomers terão idade entre 60 e 78 anos”, destacou um relatório do órgão. “A expectativa é que alguns continuem trabalhando mesmo depois de se qualificarem para receber benefícios da Seguridade Social.”

A matemática da aposentadoria é cruel, mesmo para quem parece financeiramente tranquilo. Teresa Ghilarducci, professora de economia da New School for Social Research, estima que o valor pago pela Seguridade Social repõe de 40 por cento a 50 por cento da renda da pessoa antes da aposentadoria. A ideia geral é que, para se manter em padrão de vida semelhante, uma pessoa precisa de 80 por cento do valor recebido antes da aposentadoria. Calculadoras disponíveis online estimam quanto é preciso poupar e obter de rendimento para atingir esse montante.

Um trabalhador típico da camada da pirâmide de distribuição de renda formada pelos 50 por cento que ganham menos — ou seja, renda anual inferior a US$ 40.000 — não tem economias para aposentadoria. Quem ganha entre US$ 40.000 e US$ 115.000 tem poupança mediana de US$ 60.000, segundo pesquisa da professora Ghilarducci.

No topo da pirâmide, os 10 por cento com maior renda, que ganham mais de US$ 115.000 por ano, têm poupança mediana de US$ 200.000. As economias deles também são notavelmente insuficientes, embora os cálculos não incluam propriedades imobiliárias e outros ativos tangíveis — nem heranças a caminho.

Na opinião de Ghilarducci, quanto um profissional com diploma universitário precisa economizar para se aposentar com conforto nos EUA? “Mais de US$ 1 milhão ou US$ 2 milhões.” Dá para entender porque as pessoas não param de trabalhar tão cedo.

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