Economia

Pela primeira vez em muito tempo, toda a Europa está crescendo

Fazia tempo que a projeção de crescimento europeia não era tão boa, mas há riscos no horizonte que podem colocar tudo a perder

Bandeira da União Europeia (Philippe Huguen/AFP)

Bandeira da União Europeia (Philippe Huguen/AFP)

João Pedro Caleiro

João Pedro Caleiro

Publicado em 15 de fevereiro de 2017 às 13h16.

Última atualização em 15 de fevereiro de 2017 às 16h21.

São Paulo - Pela primeira vez em quase uma década, todos os 28 membros da União Europeia estão vendo suas economias crescerem e têm a expectativa de que isso continue ao longo de 2017 e 2018.

O diagnóstico foi feito no relatório de inverno da Comissão Europeia, lançado no início desta semana.

"O PIB real na zona do euro cresceu por 15 trimestres consecutivos, o emprego está crescendo em um ritmo robusto e o desemprego segue caindo, ainda que continue acima dos níveis pré-crise", diz o texto.

Em 2009, todos os países do bloco tiveram crescimento negativo. Em 2014, já eram apenas três. Em 2015, só a Grécia continuava em recessão - da onde saiu ano passado, ainda que de forma frágil.

A expectativa é que o crescimento na UE tenha sido de 1,9% em 2016 e caia ligeiramente para 1,8% neste ano e no próximo.

O número agregado esconde grandes diferenças. Entre os piores crescimentos de 2016 estão Grécia (0,3%), Itália (0,9%), França (1,2%) e Portugal (1,3%).

Já a lista de países em situação mais robusta inclui Espanha (3,2%), Eslováquia (3,3%), Irlanda (4,3%) e Romênia (4,9%).

Fatores

O relatório nota que o maior motor da recuperação europeia será o crescimento do consumo privado puxado pela queda do desemprego.

Outro fator positivo é que passou o medo de que a Europa entrasse em uma espiral deflacionária difícil de ser rompida.

A queda dos preços de energia se dissipou e a inflação na UE deve passar dos 0,3% em 2016 para 1,8% em 2017 e 1,7% em 2018 - abaixo mas próximo de 2%, exatamente como define a meta.

Há também uma expectativa de estímulo fiscal nos Estados Unidos, o que deve levar a taxas de juros mais altas e apreciação do dólar.

Junto com recuperação dos emergentes e um euro mais fraco, isso significa uma Europa mais competitiva e com mais oportunidades de exportação.

Isso, é claro, se não houver turbulência extrema no comércio internacional - uma possibilidade a ser contemplada, dada a retórica protecionista e ameaças de alta de tarifas feitas pelo governo Trump.

Riscos

Muita coisa também pode dar errado. O processo de saída do Reino Unido da União Europeia começa oficialmente em março e só deve ser concluído em 2019 - até lá, serão muitos transtornos.

A economia britânica tem sido resiliente até agora, mas deve sofrer com a perda de acesso ao mercado europeu. A previsão é que o crescimento caia de 2% em 2016 para 1,5% em 2017 e 1,2% em 2018.

Também preocupa o fato de que a direita antieuropeia esteja bem posicionada nas pesquisas para as eleições presidenciais de 2017 - especialmente na França e na Holanda, com risco menor na Alemanha.

Segundo o banco francês BNP Paribas, o risco maior para o bloco é uma Itália afetada por "falta de reformas, crescimento fraco, um setor bancário problemático e alta dívida governamental".

Um relatório recente da consultoria PwC projeta que a Europa será a maior perdedora em peso econômico no longo prazo: de 15% do PIB mundial hoje para 9% em 2050.

A Itália cairia de 12º para 21º no ranking das maiores economias por paridade de poder de compra.

Acompanhe tudo sobre:BrexitCrescimento econômicoDonald TrumpEuroEuropaInflaçãoPIBUnião EuropeiaZona do Euro

Mais de Economia

BNDES vai repassar R$ 25 bilhões ao Tesouro para contribuir com meta fiscal

Eleição de Trump elevou custo financeiro para países emergentes, afirma Galípolo

Estímulo da China impulsiona consumo doméstico antes do 'choque tarifário' prometido por Trump

'Quanto mais demorar o ajuste fiscal, maior é o choque', diz Campos Neto