Economia

Paul Romer defende governos fortes e com papel de RH

Aumentar empregos no setor formal é a grande oportunidade no Brasil, segundo o professor da Universidade de Nova York

Paul Romer: "A coisa mais importante que o governo pode fazer nesse novo mundo é ajudar a elevar a qualificação das pessoas, o que vai gerar maior renda” (Lilian Sobral/ EXAME.com)

Paul Romer: "A coisa mais importante que o governo pode fazer nesse novo mundo é ajudar a elevar a qualificação das pessoas, o que vai gerar maior renda” (Lilian Sobral/ EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 14 de setembro de 2012 às 17h04.

São Paulo – Os governos tem que focar em um conjunto menor de coisas para fazê-las de modo melhor, manter o foco nas pessoas e usar o modelo das startups para investir de forma mais eficiente segundo Paul Romer, professor de economia da Universidade de Nova York. Romer também defende o papel de RH dos governos. 

Para Romer, governos exitosos são mais estreitos e mais fortes. Ele exemplifica isso com a administração de empresas, em que as atividades mais importantes incluem ajudar as pessoas a se desenvolverem para atingir seu potencial pleno. “Pensem no governo fazendo a função de RH de uma empresa”, afirmou Romer durante o EXAME Fórum, realizado hoje, em São Paulo.

A definição de “força” de Romer é a habilidade de resistir a pressões de setores específicos e também recrutar as pessoas certas para o governo – o que inclui pagar salários competitivos. “Há pouquíssimos governos que têm essa força, mas esse é o objetivo que temos que procurar”, disse.  

Para Romer, um governo amplo, mas fraco, não consegue impor regulamentos de forma eficaz.  “Os governos tem que ser muito fortes no sentido de poderem resistir a pressões dos lobbys das empresas privadas”, disse. O economista exemplificou com a crise financeira, quando os governos estavam vulneráveis a ceder às pressões das empresas do setor financeiro e não eram suficientemente fortes para regulamentar essas empresas.

Para investir em pessoas, Romer citou a atuação do governo como o RH das empresas. “Se o governo quer que a renda dele aumente, ele não pode pensar em forçar a subida dos salários (que impactam no PIB), mas ele pode ajudar mais pessoas a se tornarem trabalhadores mais treinados, que ganham mais”, disse. “A coisa mais importante que o governo pode fazer nesse novo mundo é ajudar a elevar a qualificação das pessoas, o que vai gerar maior renda”, disse Romer. 

Para Romer, às vezes, a melhor maneira de fazer grandes reformas e progredir rapidamente é criar uma startup – e ele defendeu esse modelo para a atuação dos governos. O professor afirmou que elas são um modo de podermos fazer as coisas de forma diferente. “É mais fácil mudar normas, leis, numa startup”, disse. 


Investir nas pessoas, para Romer, não é apenas investir em educação primária, mas também em saúde, diminuir a poluição, melhorar a alimentação – Romer defende que o Brasil melhorou sua atuação em exames internacionais só por causa da maior oferta de proteína – e oferecer vacinas e água limpa. “Tudo isso terá efeito sobre crianças, que um dia serão elementos da força de trabalho de um país”, afirmou. 

Educação

 “A questão macroeconomica mais importante que o Brasil tem é como elevar a eficácia de seu sistema escolar”, disse Romer. O professor afirmou que o país tem feito progressos, mas que ainda vai demorar até que as crianças brasileiras tenham as mesmas oportunidades econômicas das crianças na Ásia.

Escolas são importantes, mas não adianta medir quanto tempo os alunos ficam nas escolas, é necessário medir o que o aluno aprende, segundo o economista. “Porque nem todas as escolas são boas”, disse. O desempenho dos sistemas escolares na América Latina de acordo com essas medidas é deprimente, segundo o professor. Ele sugeriu que o Brasil copiasse o  sistema de educação de Cingapura ou da Finlândia. 

Para Romer, a educação não se limita às escolas. Pode-se pensar no trabalho como uma escola. “Os ganhos de qualificação e produtividade podem ser até melhores no mercado de trabalho”, disse. O índice de emprego versus população tem sido alto no Brasil, segundo Romer, mas ele enfatiza que os ganhos são maiores no trabalho formal.

O professor afirmou ainda que as restrições no mercado de trabalho que limitam a possibilidade de uma empresa demitir um trabalhador podem ter um efeito muito corrosivo, ao invés de reduzir o desemprego ou aumentar a produção. “Medidas que achávamos que protegiam os trabalhadores podem ser muito danosas a eles”, afirmou. 

A agenda no Brasil para muitos trabalhadores que ultrapassaram o período escolar não muda só com mudanças na escola, segundo Romer. “A grande oportunidade que temos aqui é aumentar emprego no setor formal”, disse. 

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