Redatora
Publicado em 27 de março de 2024 às 06h57.
Os preços dos contratos futuros do cacau para entrega em maio dispararam para uma alta histórica de US$ 10.080 por tonelada na última terça-feira, 26. O cacau triplicou de preço no último ano e subiu 129% em 2024.
O preço recorde vem em meio ao maior déficit de oferta de cacau em mais de 60 anos, e os consumidores podem começar a sentir o efeito na hora de comprar chocolates no final deste ano ou início de 2025, segundo Paul Joules, analista de commodities do Rabobank, disse à emissora norte-americana CBNC. Isso porque a Organização Internacional do Cacau previu um déficit de oferta de 374.000 toneladas para a temporada 2023-24, um aumento de 405% em relação a um déficit de 74.000 toneladas na temporada anterior.
As empresas chocolateiras têm se esforçado para não repassar o aumento de preços para os compradores do varejo. A CEO da Hershey, Michele Buck, disse à CNBC em fevereiro que a empresa possui uma estratégia de cobertura para gerenciar a volatilidade de preços. A National Confectioners Association dos EUA também disse à mesma emissora que a indústria está trabalhando com varejistas para "diminuir os custos" e manter o chocolate acessível para os consumidores.
Mas diante da escassez prolongada do cacau, é possível que as companhias não consigam conter a alta dos preços para o consumidor final. Os preços do cacau provavelmente permanecerão elevados por algum tempo porque não há soluções fáceis para os problemas sistêmicos enfrentados pelo mercado.
Além de preços mais altos, os consumidores podem enfrentar "redução no tamanho" na forma de barras de chocolate menores, disse Joules. As empresas também podem ajustar os ingredientes para usar menos cacau em alguns produtos, acrescentou o analista. O maior choque de preço viria do chocolate amargo, que tem um teor muito alto de cacau.
O aumento da demanda por chocolate por conta da Páscoa, que acontece no próximo domingo, é outro driver de aumento de preço no curto prazo.
Os preços do cacau dispararam devido a interrupções no fornecimento nos principais países produtores da Costa do Marfim e Gana, dois países que representam cerca de 60% da produção global de cacau. As plantações foram afetadas pela doença do podridão negra, causada por um fungo, e pelo vírus da doença do broto inchado.
As chuvas intensas exacerbaram os problemas de doenças, e o fenômeno climático El Niño também levou a condições mais secas, o que afeta o rendimento do cacau. Os ventos secos sazonais conhecidos como "harmattan" na África também foram mais extremos este ano, afetando as colheiras.
Os agricultores na Costa do Marfim estão cada vez mais abandonando a produção de cacau por culturas mais lucrativas, como a borracha. Os governos de Gana e Costa do Marfim fixam os preços para os agricultores no início da temporada, então eles não estão se beneficiando do atual rally.
A alta nos preços afetou o gigante do chocolate Hershey, que prevê lucros estáveis para o ano. As ações da Hershey derreteram cerca de 22% nos últimos 12 meses, enquanto as ações da Nestlé perderam cerca de 13% durante o mesmo período.