Água: A represa do Iraí é a mais afetada das quatro barragens que abastecem a região de Curitiba. (Robson Mafra/Agência Estado)
Clara Cerioni
Publicado em 6 de junho de 2020 às 08h00.
Um estudo feito pelo Departamento de Economia Rural (Deral), da Secretaria da Agricultura e do Abastecimento do Paraná, mostra que o estado enfrenta a pior seca dos últimos 30 anos. E a previsão é de que as safras de feijão e de milho sejam as mais afetadas pela estiagem histórica.
O estado é o segundo maior produtor de grãos do Brasil e um dos maiores produtores de feijão do país. De acordo com o Instituto Brasileiro do Feijão e dos Pulses, o Paraná tem perto de 30% da produção nacional do tipo carioca e 73% do feijão preto.
O estudo analisou o volume de chuvas dos primeiros meses do ano, comparando com a média histórica. Os dados foram coletados do Sistema Meteorológico do Paraná (Simepar) e do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet).
O relatório mostra que a seca vem desde junho de 2019 mas se intensificou nos meses de março, abril e maio deste ano. Na região sul do estado, onde se concentra o cultivo de feijão, em abril, por exemplo, choveu 47 milímetros, enquanto a média é de 146.
Segundo a pesquisa do Departamento de Economia Rural, a estiagem fez a produtividade cair aproximadamente 39%. A produção da segunda safra de feijão, que era estimada em 438 mil toneladas, está em 270 mil.
Além disso, a qualidade do grão também ficou prejudicada. O relatório mostra que apenas 17% das lavouras estão em boas condições. Outros 59% estão em condições médias e 32% ruins.
Salatiel Turra, chefe do Deral, explica que se a seca continuar, a situação é de alerta mas neste momento tem um impacto menor porque 80% da safra já foi colhida. "A nossa preocupação é com o milho que ainda está em uma fase de desenvolvimento e apenas 2% foi colhido", diz.
Segundo Turra, 80% da safra de milho no Paraná está em situação mais crítica. A estimativa é de que as perdas cheguem a 1,6 milhão de toneladas, o que corresponde a quase 15% da produção. Isso significa um prejuízo de cerca de 1 bilhão de reais para os produtores de milho do estado.
Por causa da estiagem, o governo do estado decretou, no começo de maio, emergência hídrica por 180 dias. Além de impactar o campo, a falta de chuvas também afeta o abastecimento de água da Região Metropolitana de Curitiba, onde vivem 3,2 milhões de pessoas.
Em algumas regiões da capital paranaense, as restrições de consumo chegam a ser de 36 horas, duas vezes por semana.
Desde março, a Companhia de Saneamento do Paraná (Sanepar) implantou um sistema de rodízio de água. Das quatro barragens que abastecem a região de Curitiba, a do Iraí é que está em situação mais crítica, com 13,72% de capacidade. O sistema todo tem 38,35% de volume.
Para Pedro Fontão, professor da Universidade Federal do Paraná e um dos coordenadores do Laboratório de Climatologia, a situação não deve melhorar logo.
"O cenário de previsão para os próximos meses não é tão animador, e a curto e médio prazo, não existe uma perspectiva otimista e concreta para a ocorrência de chuvas mais volumosas, que resolveriam a situação dos reservatórios e da agricultura," diz.
Ele ainda alerta que a pouca chuva também pode se estender até 2021. "Um fator preocupante é a possibilidade de ocorrência do fenômeno La Niña, que poderia afetar as chuvas, negativamente, no sul do Brasil, para o final deste ano e início do próximo", afirma.