Economia

Para S&P, Brasil não é mais um dos "cinco frágeis"

Em contrapartida, a principal preocupação com o Brasil é a dívida pública

Brasil: para a agência, os cinco países mais vulneráveis ao cenário externo hoje são Turquia, Argentina, Paquistão, Egito, Qatar (Mario Tama/Getty Images)

Brasil: para a agência, os cinco países mais vulneráveis ao cenário externo hoje são Turquia, Argentina, Paquistão, Egito, Qatar (Mario Tama/Getty Images)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 4 de dezembro de 2017 às 13h40.

Última atualização em 4 de dezembro de 2017 às 13h40.

Rio - Para justificar a preocupação da agência de classificação de risco Standard & Poor's (S&P) com o cenário doméstico brasileiro, o diretor-chefe de ratings soberanos globais, Moritz Kraemer, afirmou nesta segunda-feira, 4, que o Brasil não está mais entre os "cinco frágeis", grupo de países vulneráveis a crises de balanço de pagamentos, cunhado pelo banco de investimentos Morgan Stanley em 2013.

Na visão da S&P, os cinco países mais vulneráveis ao cenário externo hoje são Turquia, Argentina, Paquistão, Egito, Qatar.

No cenário global da S&P, o aperto da política monetária dos bancos centrais dos países desenvolvidos será gradual. Por isso, liquidez e apetite por risco continuarão abundantes. "Mercados estão numa situação em que estão pesadamente sedados", afirmou Kraemer, em palestra durante o seminário Reavaliação do Risco Brasil, promovido pela Fundação Getulio Vargas (FGV).

O executivo da S&P lembrou ainda que o Brasil é uma economia fechada, então a interação é baixa com o resto do mundo. Dessa forma, o País fica protegido de outros riscos para a economia global, como a possibilidade de os Estados Unidos criarei barreiras à importação.

"O Brasil tem pouco a se preocupar, já que não exporta tanto para os Estados Unidos, menos de 2% do PIB", afirmou Kraemer, completando que a saída do Reino Unido da União Europeia tampouco preocupa.

Em contrapartida, a principal preocupação com o Brasil é a dívida pública. Segundo dados da S&P, o único país emergente que tem uma dívida maior do que o Brasil, como proporção do PIB, é o Egito. "É muito alta, muito acima da média para países emergentes", disse Kraemer.

Além disso, o endividamento do Brasil aumentou de forma muito rápida. A dívida bruta cresceu 34 pontos porcentuais do PIB, de 2010 a 2020, nas contas da S&P. No período, somente a Venezuela viu o endividamento crescer mais. Os dados mostram ainda que o problema da dívida é público. Da dívida total da economia, 77% é pública no Brasil. Na média de 20 emergentes, excluído o Brasil, o setor público responde por 51%.

"A dívida é um desafio do setor público, não do setor privado", afirmou Kraemer, ressaltando que tudo seria mais fácil se o Brasil crescesse mais rápido. O executivo citou a baixa eficácia do investimento e a má alocação de capitais como motivos para o baixo crescimento.

Rebaixamento

A maior causa para eventual rebaixamento da nota de risco soberano do Brasil na S&P será o cenário doméstico e não externo, afirmou Kraemer. Atualmente, a nota do Brasil na S&P é BB, com viés negativo, o que significa que um rebaixamento pode ser decidido em breve.

"No longo prazo, como ouvi duas vezes, o desafio é tanto que serão necessárias várias ondas de reformas", afirmou Kraemer, no seminário na FGV, no Rio. Para o executivo, são desafios que exigem reformas ao longo de vários anos e vários governos.

Kraemer citou especificamente a reforma da Previdência. "A reforma da Previdência seria um importante sinal de que as instituições políticas do País podem se juntar", disse o executivo da S&P. Ao contrário, a paralisação da reforma seria "uma sinalização contrária", que será levada em conta quando o comitê de analistas da agência se reunir.

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