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Da Redação
Publicado em 11 de junho de 2015 às 13h51.
São Paulo - Para deslanchar grandes projetos de infraestrutura, o Brasil precisa primeiro resolver questões antigas e não resolvidas com o pacote anunciado nesta semana, como a eficácia do modelo de financiamento, disse uma alta executiva da holding Odebrecht.
"Alguns velhos problemas, como o do project finance, não foram endereçados", disse a vice-presidente de Finanças da Odebrecht, Marcela Drehmer, em entrevista à Reuters. "Estamos aguardando respostas para o financiamento de projetos que já vencemos e ainda não saíram do papel".
Os comentários da executiva vêm após o governo federal ter lançado nesta semana a segunda etapa do Programa de Investimento em Logística (PIL) para construção de ferrovias, portos, rodovias e aeroportos.
Para a executiva, a sinalização de maior participação do mercado de capitais para financiar os projetos é bem vinda, mas a estruturação de garantias para essas operações precisa de ajustes, incluindo a participação do BNDES, ajustes regulatórios do Banco Central e o uso de um fundo garantidor.
Após lançar a primeira edição do PIL, em 2012, o governo criou a ABGF, órgão que deveria atuar como garantidor para o financiamento dos projetos. Mas a entidade, ligada ao Ministério da Fazenda, não recebeu a capitalização necessária.
De acordo com a executiva, também falta ao governo dizer como vai incentivar o investidor comprar debêntures desses projetos, dado que a expectativa é de que o mercado de capitais responda por 10 a 15 por cento dos quase 200 bilhões de reais esperados para o PIL2.
Com o pacote, o governo tenta criar uma agenda positiva, enquanto o país caminha para a pior recessão em 25 anos, refletindo a baixa confiança de empresas e consumidores, uma política econômica mais restritiva e os efeitos da Lava Jato.
Os efeitos dessa operação, que investiga denúncias de corrupção na Petrobras, já levaram quatro grandes empreiteiras do país a pedir recuperação judicial, enquanto várias outras estão em dificuldades financeiras.
No caso da Odebrecht, embora a divisão de engenharia e construção seja a face mais conhecida, é um dos 15 braços de negócios do conglomerado baiano, que atuação vai desde o agronegócio industrial a meio ambiente e setor petroquímico.
A área de construção respondeu por 31 por cento do faturamento de 107,7 bilhões de reais da holding em 2014 e três quartos disso oriundos do exterior.
Segundo Marcela, essa diversificação permitirá à holding manter o ritmo de crescimento anual das receitas ao redor de 19 por cento até 2017, apesar do mau momento do Brasil.
Ainda assim, dado o atual cenário econômico do país, a companhia tem reduzido custos e ajustado o orçamento, especialmente de unidades como as de defesa e do setor imobiliário.
A meta principal do conglomerado é reduzir seu nível de endividamento, medido pela dívida líquida sobre a geração de caixa (Ebitda), de 4,2 vezes no fim de 2014, para 3,5 até 2017.
Por isso, aquisições de eventuais concorrentes estão fora do mapa da Odebrecht.
"Mas também não temos intenção de vender nenhum ativo", disse Marcela.
IPOs e expansão internacional
O que deve acontecer é a listagem em bolsa de três unidades do grupo nos próximos três a quatro anos, a Odebrecht Ambiental, a Odebrecht Transport (OTP) e a Odebrecht Óleo & Gás, em operações que podem permitir desinvestimentos feitos por sócios nessas companhias.
"Mas vamos fazer no momento adequado, quando tivermos entregado resultados", disse Marcela. "Não pode ter a faca no pescoço para fazer listagem".
Enquanto nem a retomada econômica e das grandes obras de infraestrutura do país não acontecem, a Odebrecht se aproxima rapidamente de ter pela primeira vez a maior parte de suas receitas geradas no exterior.
Com a abertura de uma fábrica de etileno da Braskem no México e de geradora de energia no Peru, a fatia de operações internacionais da Odebrecht, que era de 39 por cento em 2011, será superior a 50 por cento no ano que vem.