Klaus Schwab: "As pessoas buscam uma identidade neste mundo novo e a globalização é um bode expiatório muito fácil" (Pierre Albouy/Reuters)
AFP
Publicado em 12 de janeiro de 2017 às 16h02.
O fundador do fórum de Davos, Klaus Schwab, em plena forma aos 78 anos, é categórico e garante que a globalização, que sempre defendeu, se transformou em bode expiatório dos problemas do mundo.
A chegada de Donald Trump ao poder e o Brexit "não só representam a hostilidade contra a globalização", disse em entrevista à AFP na sede, em Genebra, do Fórum Econômico Mundial (WEF, na sigla em inglês), um imponente edifício à beira do lago Léman.
Schwab reconhece que o mundo está vivendo mudanças muito rápidas que têm desestabilizado populações e provocado uma "certa ansiedade".
"As pessoas buscam uma identidade neste mundo novo e a globalização é um bode expiatório muito fácil", assegura.
Segundo o fundador do WEF, que desde 1971 reúne todos os anos líderes políticos e econômicos do mundo inteiro, as mudanças globais, em particular provocadas pelas novas tecnologias, provocaram uma "crise emocional" que pode ser explicada não apenas pela globalização.
Para Schwab, doutor em Economia, para enfrentar essa situação, o mundo "só" precisa de líderes que sejam "receptivos" e "responsáveis".
Um líder assim "escuta a gente que faz parte de sua equipe e toma as decisões necessárias para resolver os problemas". Segundo Schwab devem ser buscadas as raízes do problema, ou seja, "por que as pessoas estão cansadas e não estão satisfeitas".
Para conseguir isso, precisa-se de "coragem de agir", acrescentou, lembrando que um lema do fórum de Davos neste ano é um pedido para uma liderança "receptiva e responsável".
Perguntado sobre o retorno do protecionismo em muitos países do planeta, Schwab prevê que no longo prazo haverá um "mundo muito frágil (...) com o retorno das fronteiras e todos os inconvenientes que isso implica para os negócios e para as pessoas".
O fundador do WEF também disse estar preocupado pelo fato de que os países estão ficando "cada vez mais egoístas" por pressão dos eleitores.
"Pede-se aos líderes que trabalhem a favor dos interesses nacionais, em detrimento da cooperação global", lamentou.
"Em um mundo que se está desintegrando e que se polariza é preciso um instrumento de diálogo" como o fórum de Davos, que reúne responsáveis políticos, econômicos e sociais, reivindicou Schwab.
"Os grandes problemas do mundo não podem simplesmente ser resolvidos pelos políticos e economistas, faz falta uma cooperação entre todas as partes", disse, defendendo a integração do mundo dos negócios, da sociedade civil e dos especialistas.
A edição 2017 do fórum, a semana próxima (17-20 de janeiro), será marcada pela presença pela primeira vez de um presidente chinês, Xi Jinping, à frente de uma grande delegação.
Também haverá representantes da futura administração do presidente eleito americano, Donald Trump, assim como estarão presentes Joe Biden, atual vice-presidente, e John Kerry, secretário de Estado sob a presidência de Barack Obama.