Bolsonaro: candidato se diz comprometido com reformas estruturais, como a da Previdência (Bloomberg/Colaborador/Getty Images)
Estadão Conteúdo
Publicado em 30 de outubro de 2018 às 09h21.
São Paulo - O primeiro pronunciamento do presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), serviu para confirmar o discurso de austeridade fiscal, de redução do tamanho do Estado e de comprometimento com reformas estruturais, como a da Previdência. Embora este seja um passo na direção correta, o economista Samuel Pessôa, pesquisador do Ibre/FGV, lembra que existe um descompasso entre a vontade da equipe econômica - liderada pelo economista Paulo Guedes - e o núcleo político que gravita em torno de Bolsonaro.
"A equipe econômica está ciente do problema e tem diagnóstico (dos desequilíbrios econômicos e da necessidade de reformas). A impressão que eu tenho é que o grupo político não tem diagnóstico", explica o pesquisador. "Pessoas como o Onyx Lorenzoni (deputado do DEM que é um dos principais interlocutores do eleito), por exemplo, não têm a menor ideia do problema fiscal, acham que não existe déficit na Previdência. Precisamos ver como vai ser o diálogo entre o grupo que está tocando a economia e os políticos."
Diante das incertezas sobre a capacidade do novo governo em encaminhar as reformas necessárias para reduzir o déficit fiscal - que vai ficar em torno de R$ 120 bilhões em 2018 -, a economista-chefe da XP Investimentos, Zeina Latif, disse não acreditar que o Produto Interno Bruto (PIB) possa se acelerar além da taxa de 1,5% que a corretora já vinha prevendo para o ano que vem. "Há muitas incertezas e, por isso, não há razões para ver aceleração do PIB em 2019", disse Zeina, em entrevista ao Broadcast (serviço de notícias em tempo real do Grupo Estado) e ao jornal O Estado de S. Paulo.
A economista da XP, no entanto, considerou positivo o tom do discurso de Bolsonaro no domingo, 28, à noite. "O ajuste no discurso era esperado e deve continuar. Achei importante a ênfase dada a temas da economia, que ficaram de lado durante a campanha no segundo turno", disse ela.
Na visão de Pessôa, da FGV, embora os temas tenham sido endereçados, falta sinalização sobre como "ele espera avançar" para atingir os objetivos. "A gente vai ter de ver, nas próximas semanas, qual é o desenho do ajuste fiscal que eles vão promover. Isso não está claro ainda", diz o economista.
Coordenador das propostas econômicas do candidato derrotado do MDB à Presidência da República, Henrique Meirelles, o economista José Márcio Camargo afirmou não estar preocupado com as contradições que apareceram durante a campanha entre o programa liberal de Guedes e as falas nacionalistas do presidente eleito. "Apesar de eu não ter conversado com ele (Guedes), minha sensação é que ele está se sentindo à vontade para escalar a equipe."
Sobre a possibilidade de Bolsonaro não conseguir passar as reformas no Congresso, o economista disse que o presidente eleito não é um novato em Brasília, apesar de nunca ter sido uma liderança parlamentar. "O Bolsonaro foi um tsunami eleitoral. Acho que ele vai ter uma capacidade razoavelmente grande para negociar suas propostas. Independentemente de ter 50 deputados, acho que a base dele é muito maior. Esse Congresso novo será mais conservador que o atual." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.