PIB brasileiro: na média, o avanço esperado é de 0,25% na comparação como último trimestre de 2016 (./Thinkstock)
Estadão Conteúdo
Publicado em 19 de fevereiro de 2017 às 13h12.
São Paulo - A economia brasileira deve voltar ao terreno ligeiramente positivo no primeiro trimestre deste ano, após enfrentar a mais longa e profunda recessão, aponta pesquisa do Projeções Broadcast.
Entre 30 instituições financeiras e consultorias consultadas, a maioria espera um crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) entre janeiro e março, apesar de essa avaliação não ser consensual entre os analistas.
O levantamento mostra que há quem projete estabilidade e até uma pequena queda da atividade no período.
De toda forma, na média, o avanço esperado é de 0,25% na comparação como último trimestre de 2016. Para o ano de 2017, a projeção é de um crescimento em torno de 0,50%.
Parte dos economistas ouvidos pela reportagem do Estado acredita que o pior momento pode ter ficado para trás, ponderando que este ano será de transição. Mas há aqueles que consideram o quadro ainda muito ruim.
Mas, mesmo entre os otimistas, o cenário é de cautela em relação à recuperação. Boa parte deles acredita que a economia pode ter parado de piorar na virada do ano, o que já é tido como um e avanço.
Casca de banana. No entanto, há riscos políticos que podem atrapalhar a recuperação. "Casca de banana não falta", alerta o ex-diretor do Banco Central, o economista Alexandre Schwartsman, em referência à não aprovação da reforma da Reforma da Previdência, de acordo com moldes previstos.
A maioria dos entrevistados concorda que hoje não há motores potentes para impulsionar a atividade. Eles depositam as expectativas na queda da taxa de juros combinada com a redução da inflação para incentivar o consumo e, assim, trazer de volta o crescimento.
José Márcio Camargo, professor da PUC-Rio:
"Há vários indicadores que tendem a sugerir que a economia está chegando, se já não chegou, no fundo do poço: o número de veículos pesados nas rodovias, a produção de papelão ondulado, a confiança dos consumidores e empresários. São indicadores que antecedem o nível de atividade. Eles mostram que efetivamente há uma estabilização na queda ou, quem sabe, um início de retomada. Isso deve fazer com que o desemprego em algum momento comece a cair. Pelas nossas estimativas, o desemprego deve começar a recuar no último trimestre de 2017. Como a inflação está caindo, isso deve provocar uma elevação do salário real das pessoas empregadas. A estabilização do desemprego e o aumento do salário real vão gerar a elevação da folha de salários da economia e provocar um avanço do consumo. Além disso, a redução dos juros deve, em algum momento, voltar a impulsionar o crédito. Os recursos disponíveis das contas inativas do FGTS também vão ajudar. Existe um conjunto de reformas e de atitudes que está criando uma credibilidade que não se tinha no passado. A pinguela está virando ponte e alguns alicerces foram feitos."
Luiz Carlos M. de Barros, ex-presidente do BNDES:
"A economia já está reagindo. No Brasil os ciclos econômicos são muito mais acentuados do que em outras economias. Passamos da euforia para desespero em dois a três anos, como aconteceu agora. Hoje estamos lá em baixo no ciclo, batemos no fundo do poço. Na medida que o governo Temer, com a equipe econômica de qualidade e de credibilidade, começou a fazer as coisas certas, é uma questão de tempo para o ciclo voltar a expandir. A recuperação precisa de duas condições: as condições do ciclo econômico que está se vivendo e a ancoragem no futuro. Por isso, as reformas são tão importantes. O déficit em conta corrente, que era de 5%, hoje é de 1%. Isso dá credibilidade, o real se valoriza e força uma desinflação, que acaba se acelerando pela ociosidade da economia. O desemprego é o último que se recupera. O que vai começar a acontecer é que os trabalhadores vão perder o medo de ficar desempregados. Na hora que isso ocorrer, como a renda de quem se manteve empregado está preservada, e até subiu em termos reais, esse pessoal vai perceber que há espaço para voltar a consumir. Esse é o primeiro movimento da economia real."
Zeina Latif, economista-chefe da XP:
"Vejo sinais de estabilização, não de reação, o que, nesta altura do campeonato, é uma boa notícia. Tivemos uma surpresa muito negativa no PIB (Produto Interno Bruto) do terceiro trimestre. Provavelmente vamos ter uma leitura negativa também no quarto trimestre. Mas, quando observamos a evolução dos indicadores ao longo do último trimestre, há razões para vermos sinais de estabilidade, ainda que num patamar muito baixo. Não temos motores para puxar o crescimento. Temos uma safra agrícola positiva com seus efeitos de segunda ordem. Mas, infelizmente, isso não é puxador de crescimento. Precisamos ter o corte de juros se traduzindo em normalização do crédito. Imagino que isso ocorrerá só para meados do ano. A retomada não é algo já dobrando a esquina. É claro que estamos mudando o ritmo da economia, trocando a marcha. Antes, estávamos acelerando a queda e agora estamos indo para o ponto morto. Nesse cenário, é claro que alguns setores vão na frente, claro que a gente vai ter histórias de sucesso aparecendo. Mas, no nível macroeconômico, vamos ter de esperar um pouquinho mais. Este ano ainda é de transição."
José Luís Oreiro, professor da UFRJ:
"A situação é bem difícil. Vamos parar de piorar, mas retomar o crescimento são outros 500. São coisas diferentes. Estamos diminuindo o ritmo de piora. Talvez agora neste primeiro trimestre a gente pare de piorar. Ou seja o PIB (Produto Interno Bruto) do primeiro trimestre de 2017 pode ser igual ou ligeiramente maior do que o PIB do último trimestre de 2016. Para que a economia possa sair da crise, em que ela está funcionando abaixo do produto potencial, é preciso ter expansão da demanda. Entretanto, não estou vendo vetor de crescimento da demanda para 2017: nem consumo, nem investimento, nem gasto do governo, nem exportações. O que poderia talvez ajudar um pouco seria destravar as concessões de obras de infraestrutura. Mas não tenho visto muita movimentação do governo nesse sentido. Podemos ficar muito tempo nessa posição de equilíbrio, com subutilização da capacidade produtiva e desemprego crônico da força de trabalho. No momento, o único instrumento de política econômica à disposição do governo é a política monetária. O Banco Central precisa acelerar o corte na taxa de juros."
Monica de Bolle, pesquisadora do Peterson Institute:
"Não acho que a economia esteja virando. Existe uma euforia meio carnavalesca no Brasil nas últimas semanas, mas os indicadores são muito turvos ainda. Não dá para dizer que há sinais de virada. É exagero carnavalesco. A economia conseguiu transitar do péssimo para o muito ruim. Isso dá uma impressão de melhora e as pessoas tendem a ficar um pouco eufóricas. Não é uma virada de nível e não significa agora que a economia esteja crescendo já. Não há nada que vá fazer 2017 ser um ano de virada no sentido de que as pessoas pensem: o Brasil finalmente está crescendo não sei quanto. Com o endividamento muito alto setorialmente, está todo mundo mais preocupado com desalavancagem do que com consumo e investimento. Não há demanda doméstica com força suficiente para gerar esse tipo de crescimento. Também o lado externo não vai ajudar. O crescimento mais forte a médio prazo está longe de estar garantido. Não vejo como isso será possível, uma vez que a produtividade está lá embaixo. E a única coisa que gera expectativa de crescimento sustentável é aumento de produtividade, coisa que o Brasil não tem."
Luiz Carlos Bresser-Pereira, ex-ministro da Fazenda:
"O meu entendimento é que não estamos saindo da recessão. Ainda tivemos essa triste notícia de que no ano passado o PIB (Produto Interno Bruto) pode ter caído 4,3%, segundo indica o IBC-Br (indicador antecedente do PIB calculado pelo Banco Central). É um desastre profundo. Nunca houve uma recessão tão forte que eu me lembre no Brasil. A crise atual é uma crise financeira das empresas. Não é uma crise financeira de balanço de pagamento nem é, graças a Deus, uma crise financeira dos bancos. Tinha de ter uma linha especial de crédito para as empresas para elas poderem voltar a empregar. Quais foram as políticas contracíclicas que este governo tomou? Não conheço nenhuma. Só se eu chamar de contracíclica o Banco Central, depois de um imenso atraso, afinal começar a baixar juros. Fora isso, juros absolutamente escandalosos, não vi nada. Espero que aconteça alguma recuperação, apesar da política do governo, que é contra. O governo tem trabalhado firme e determinadamente para aprofundar a recessão e impedir a retomada da economia. Suponho que vai haver alguma recuperação, dado o caráter cíclico do capitalismo."
Alexandre Schwartsman, ex-diretor do Banco Central:
"Tem alguns sinais que parecem indicar que chegamos muito perto do fim da recessão no último trimestre de 2016. A atividade, a produção industrial, o varejo e os serviços continuaram caindo. Nada veio brilhante. Agora, o ritmo de queda parece ser menor. Parece que a economia está encontrando o fundo do poço, devagarzinho ela está encontrando o fundo do poço. De qualquer forma não espero uma baita retomada daqui para frente. Não acho que a gente vá sair apitando da recessão. Vamos bater no fundo do poço e crescer devagar a partir dali. Crescimento mais rápido é só para o final de 2017. Para este ano, o PIB (Produto Interno Bruto) deve avançar em torno 0,5%. Casca de banana não falta para atrapalhar a retomada. Se der uma pisada na bola do lado político, teremos repercussões. Não é o cenário que estou trabalhando. Entre os riscos estão a reforma da Previdência não passar ou passar muito desfigurada. Daí, as pessoas começam a ver que as contas não fecham e o humor sobre o País muda. Temos um caminho para a recuperação, mas acho que é um caminho muito estreitinho: tem de fazer tudo certo."
Marcio Pochmann, professor da Unicamp:
"Não vejo dinamismo que possa indicar uma recuperação da economia, que leve a um ciclo de investimento. O que nós podemos ter é uma situação na qual a economia segue estagnada. Pode até apresentar um indicador positivo, levemente acima de zero, mas para mim isso não significa recuperação. Em 1982 e 1991, estávamos no meio da recessão e o PIB (Produto Interno Bruto) não foi negativo, mas no ano seguinte voltou a cair. O que nós estamos vendo não é só uma recessão. O País vem acumulando não apenas redução do ritmo de atividade, mas redução da capacidade de produção por um fenômeno chamado desinvestimento: empresas estão sendo fechadas e não estão sendo abertas novas. O PIB potencial está encolhendo. Eu não diria que está ocorrendo uma depressão como em 1930, mas existe uma depressão especialmente no setor industrial. Entre 10 e 15 indústrias estão sendo fechadas a cada mês em São Paulo. Não há saída econômica que possa reverter esse cenário. A maior dificuldade é o tema da política. Uma saída seria um acordo entre o governo e o setor produtivo para dar garantias de que a economia não vai voltar a cair."
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.