Pessoas caminham na popular rua comercial 25 de Março antes do Natal, em meio ao surto da doença coronavírus (COVID-19), no centro de São Paulo, Brasil 21 de dezembro de 2020. REUTERS / Amanda Perobelli (Amanda Perobelli/Reuters)
Estadão Conteúdo
Publicado em 12 de janeiro de 2021 às 14h15.
O diretor de Política Monetária do Banco Central, Bruno Serra, afirmou nesta terça-feira, 12, que uma segunda onda de contaminação pela covid-19 não tem, necessariamente, as mesmas consequências econômicas da primeira onda, verificada em 2020. "Não é nada simples reprisar o choque que vivemos em março e dizer que o impacto agora vai ser o mesmo", avaliou, durante evento virtual.
Segundo Bruno Serra, em março e abril de 2020 o avanço da pandemia gerou "lockdowns fortes" e as pessoas passaram a ficar em casa.
Agora, a avaliação é de que há um recrudescimento da doença, mas como consequência da volta da mobilidade.
Para o diretor do BC, é difícil estimar que o impacto da segunda onda na economia será o mesmo que o da primeira onda, vista no ano passado.
Bruno Serra afirmou também que a instituição precisou adotar um grau de estímulo monetário "forte" no Brasil, em meio à pandemia do novo coronavírus, mas que isso é "temporário". "A taxa de juros que precisamos colocar foi em ambiente de choque atípico", afirmou o diretor, durante evento virtual.
Atualmente, a Selic (a taxa básica de juros) está em 2,00% ao ano, no menor patamar da história. Em suas comunicações, o BC vem pontuando que o atual nível "extraordinariamente elevado de estímulo monetário" é adequado.
Bruno Serra afirmou, no entanto, que "é natural esperar que o estímulo extraordinário vá sair de cena em algum momento".
Segundo ele, isso já vem sendo projetado pelo mercado. "O debate vai ocorrer", afirmou, para depois acrescentar que "ainda é o momento de estímulo bastante extraordinário".
O diretor de Política Monetária do Banco Central avaliou ainda a alta mais recente das commodities no mercado internacional, que gerou efeitos para o mercado global de câmbio. Segundo ele, o movimento pode ser separado em duas partes.
Em primeiro lugar, conforme Serra, a pandemia do novo coronavírus levou um grande número de países a utilizar o espaço fiscal para "colocar dinheiro" na economia. "Os países desenvolvidos usaram o fiscal mais do que nós", pontuou o diretor. Segundo ele, com mais dinheiro nas mãos das pessoas, o consumo de produtos reagiu e os preços das commodities se recuperaram.
A segunda explicação para o avanço das commoditites está ligada ao clima. "A questão climática também pesou nos grãos e foi para os preços", afirmou. "A Arábia Saudita restringiu produção", acrescentou, em referência aos cortes mais recentes na produção de petróleo, que impulsionaram os preços da commodity e o dólar ante outras moedas no mercado internacional.
Ao avaliar de forma geral o movimento do câmbio nos últimos meses, Bruno Serra lembrou que o Brasil passou pelo que outros países passaram durante a pandemia, com a saída de investimentos estrangeiros. Além disso, ele lembrou que em 2020 o Brasil enfrentou um "ajuste grande" de estoques cambiais ligados ao overhedge - o hedge (proteção) em excesso que bancos com operações no exterior carregavam e que precisou ser reduzido até o fim do ano.
O ajuste do overhedge, conforme Bruno Serra, somou cerca de US$ 35 bilhões. Para evitar pressão adicional no câmbio, o BC promoveu operações cambiais no fim de 2020, permitindo a redução do overhedge. "Era um problema que vivíamos no mercado de câmbio brasileiro. Reduzir o estoque de overhedge é doloroso, mas vai trazer frutos no futuro", defendeu.
Bruno Serra participou nesta terça de evento virtual sobre "Conjuntura Econômica Brasileira", organizado pela XP Investimentos.