Michel Temer: o presidente foi denunciado pelo Procurador-Geral Rodrigo Janot (Ueslei Marcelino/Reuters)
Estadão Conteúdo
Publicado em 27 de junho de 2017 às 16h43.
São Paulo - A denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) contra o presidente da República, Michel Temer, e a estratégia de Rodrigo Janot de fatiar as acusações em três partes, deve a partir de agora concentrar as atenções e o foco do Congresso.
Com isso, a agenda das reformas, sobretudo a da Previdência, deve ficar para 2019, avaliam economistas e cientistas políticos ouvidos pelo Broadcast, serviço de notícias em tempo real do Grupo Estado.
Alguns analistas acreditam que Temer tem condições de conseguir os votos necessários na Câmara para barrar as denúncias de Janot.
O custo, porém, será uma paralisia do governo para tocar outras agendas que não a própria sobrevivência do peemedebista.
"A cada pedido que Temer faz à base aliada para se segurar no cargo, há um enfraquecimento de seu capital político. Não acho que tenha mais reforma na mesa. O foco agora é ele se segurar no cargo", afirma o diretor de pesquisa macroeconômica para América Latina da Oxford Economics, Marcos Casarin, baseado em Londres.
Um teste importante para ver se o governo ainda tem fôlego para andar com as reformas e como está o relacionamento do Planalto com a base aliada após as denúncias de Janot deve ser a votação do texto das mudanças nas regras trabalhistas, prevista para esta quarta-feira, 28, na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado.
"Precisa de um sinal mínimo de aprovação", avalia o economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale.
Mesmo com o andamento do texto da reforma trabalhista, os economistas mostram menos otimismo para a Previdência.
"A Previdência já estava adiada e adiada continua. Por enquanto, a reforma fica em suspenso, pelo menos até a votação da denúncia", disse a economista-chefe da Rosenberg Associados, Thaís Zara.
Para o cientista político da Hold Assessoria Legislativa, André Pereira César, o mais provável é que o texto fique para 2019.
"O governo Temer tem pouca margem de manobra", disse ele, destacando que após as denúncias de Janot, o custo para manter a base de apoio de Temer aumentou.
Vale, da MB, também vê chances de a reforma ficar para 2019. "O governo está postergando a morte da Previdência e jogando para frente algo que talvez não dê para fazer este ano."
Mesmo uma reforma da Previdência mais esvaziada, que contemple apenas a idade mínima para a aposentadoria, vai ser difícil passar neste clima, avalia a economista Monica de Bolle, pesquisadora do Peterson Institute for International Economics, com sede em Washington.
"Não tem ambiente algum para discussão de qualquer tipo de reforma", disse ela, ressaltando que o foco agora dos parlamentares serão as denúncias contra o peemedebista. Para a economista, há o risco de o governo Temer entrar em um estado de total paralisia, focado apenas em sua sobrevivência, deixando assim a agenda de reformas para o próximo presidente.
Para o cientista político e consultor associado da 4E, Humberto Dantas, é "extremamente improvável, quase uma utopia", a aprovação da reforma da Previdência até 2018.
"A reforma já não é a que o governo queria anteriormente e agora passou a ser extremamente improvável, quase uma utopia", disse.
Um dia após Janot denunciar Temer, o Bank of America Merrill Lynch (BofA) revisou as projeções de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil e alertou que o "ruído político cresceu, elevou risco para reformas e deve afetar retomada da economia".
A instituição cortou a estimativa do PIB deste ano de 1% para 0,25% e de 2018 de 3% para 1,5%. "A recente turbulência política aumentou o risco de atrasos na aprovação da reforma da Previdência, um dos principais pilares em nosso cenário-base macroeconômico", afirmam os economistas do BofA, David Beker e Ana Madeira em um relatório nesta terça-feira, 27.
Quanto mais tempo demorar a tramitação da denúncia no Congresso, pior será, pois vai contribuir para manter o clima de incerteza elevado, observa a economista da XP Investimentos, Zeina Latif.
Enquanto a situação não se resolve, a agência de classificação de risco Moody's, deve manter a perspectiva negativa para o rating soberano do Brasil.
"Até vermos clareza sobre a direção das políticas e as perspectivas das reformas, que já foram muito comprometidas", disse a vice-presidente e principal analista para o País da agência, Samar Maziad.
"Temos já uma perspectiva negativa sobre o rating do Brasil e isto captura as incertezas que começaram no recente processo de revelações realizadas pelas gravações do dirigente da JBS", disse ela ao Broadcast. (Altamiro Silva Junior, Célia Froufe, Francisco Carlos de Assis, Gustavo Porto, Maria Regina Silva, Ricardo Leopoldo e Thais Barcelos)