Petróleo: para analistas, produtores dos EUA tiraram poder da Opep, e acordo anunciado na semana passada perdeu muito do seu peso (Karen Bleier/AFP)
Da Redação
Publicado em 3 de outubro de 2016 às 10h39.
Washington - O acordo provisório da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) para reduzir sua produção, revelado na semana passada, pode ter vindo tarde demais.
Após produzir a todo vapor nos últimos dois anos, a Opep está estudando cortar sua produção em até 700 mil barris por dia nos próximos meses. Muitos analistas, porém, dizem que a redução proposta não é suficientemente grande e não ocorrerá em tempo hábil para lidar com o problema do excesso de oferta, que vem pressionando os preços do petróleo.
No começo do ano, houve várias projeções de que a oferta e a demanda atingiriam o equilíbrio até o fim de 2016. No entanto, mesmo após o acordo da Opep, a aposta majoritária agora é de que o equilíbrio não virá antes de meados do ano que vem. Os estoques globais estão próximos de níveis recordes e os produtores de óleo de xisto dos EUA acabaram passando a perna na Opep, ao resistirem relativamente bem à queda nos preços e se posicionando para impulsionar a produção quando as cotações voltarem a subir.
"Os ágeis produtores dos EUA tiraram parte do poder da Opep", comentou Daniel Yergin, vice-presidente do IHS Markit e observador de longa data dos mercados de petróleo. "Hoje, há muito mais petróleo que não é da Opep."
Na última quarta-feira (28), a Opep chegou a um consenso para reduzir sua produção a um volume entre 32,5 milhões e 33 milhões de barris por dia, de 33,2 milhões de barris diários em agosto. Na ocasião, o cartel informou que pretende finalizar detalhes do plano na reunião de cúpula que fará em novembro.
A iniciativa da Opep pegou os mercados de surpresa, levando os preços do petróleo negociado em Nova York a subirem mais de 8% nas três últimas sessões da semana passada. No ano,ao petróleo acumula valorização de 30%, após chegar a cair abaixo de US$ 30 por barril meses atrás.
No entanto, continua incerto quais países da Opep poderão reduzir produção e que critérios serão usados para se implementar o plano. Tradicionalmente, os integrantes do grupo costumam descumprir cotas de produção.
E mesmo que a Opep ratifique o acordo, especialistas de energia diziam que o corte na produção terá efeito limitado na correção dos desequilíbrios entre oferta e demanda. O excesso de petróleo reflete em parte a mudança nos papéis de produtores dos EUA e da Opep, uma vez que as empresas norte-americanas que exploram óleo de xisto ampliaram sua participação de mercado e conquistaram maior capacidade de influenciar os preços globais.
"A Opep não controla a produção marginal e, consequentemente, não tem influência duradoura sobre o preços", avaliou o Commerzbank em nota recente.
Países que não fazem parte da Opep respondem atualmente por 58% da produção mundial de petróleo, que no segundo trimestre alcançou 95,9 milhões de barris por dia, ficando acima da demanda estimada de 95,6 milhões de barris diários, segundo a Agência Internacional de Energia (AIE).
A redução proposta pela Opep só reduziria o excesso de oferta se não fosse compensada pelos ganhos na produção de fora do grupo. Além disso, mesmo que o corte alinhe a produção ao consumo, os estoques globais continuam elevados.
Em julho, período mais recente para o qual há dados disponíveis, os estoques de petróleo bruto e produtos refinados em nações da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) ultrapassaram 3,1 milhões de barris, mostrando alta de 15% em relação a dois anos antes, de acordo com dados da AIE. Os estoques não relacionados à OCDE também estão próximos de níveis recordes, segundo estimativa da Bernstein Research.
"No final das contas, o assunto se resume a fundamentos bem básicos: quanto de petróleo temos no sistema?", apontou Joe Tanious, estrategista sênior de investimentos na Bessemer Trust. "Precisamos ver uma diminuição nesses estoques."
No geral, a produção de fora da Opep deverá recuar mais de 800 mil barris por dia este ano, segundo a AIE, mas subir quase 400 mil barris diários em 2017, graças a maior contribuição do Canadá, da Rússia e do Brasil.
Fonte: Dow Jones Newswires.