Pessoas à margem do rio Yamuna para serem transferidas para um abrigo durante um bloqueio imposto devido ao coronavírus em Nova Délhi, em 15 de abril. (Prashanth Vishwanathan/Bloomberg)
Ligia Tuon
Publicado em 28 de maio de 2020 às 20h31.
Última atualização em 29 de maio de 2020 às 17h10.
Abdul Kareem teve de parar de estudar e fazer bicos como consertar bicicletas, antes de finalmente conseguir tirar a família da pobreza extrema, transportando mercadorias pela capital indiana em uma caminhonete.
O trabalho e a pequena segurança financeira conseguida foram o primeiro passo para uma vida melhor.
Agora, tudo veio por água abaixo diante do impacto econômico do coronavírus na Índia. Kareem está desempregado e confinado em sua vila no estado de Uttar Pradesh, no norte do país, com a esposa e dois filhos. As poucas economias da renda de 9 mil rupias (US$ 119) por mês se esgotaram, e o dinheiro que economizou para livros e uniformes escolares teve de ser gasto.
“Não sei qual será a situação do mercado de trabalho em Déli quando voltarmos”, disse Kareem. “Não podemos passar fome, então farei o que encontrar.”
Pelo menos 49 milhões de pessoas no mundo todo devem entrar para o grupo de “pobreza extrema” - os que vivem com menos de US$ 1,90 por dia - como resultado direto da destruição econômica causa pela pandemia, e a Índia lidera essa projeção. O Banco Mundial estima que 12 milhões de indianos devem fazer parte desse grupo neste ano.
“Muitos dos esforços do governo indiano para mitigar a pobreza ao longo dos anos podem ser eliminados em questão de poucos meses”, disse Ashwajit Singh, diretor-gerente da IPE Global, consultoria do setor de desenvolvimento que assessora várias agências de ajuda multinacionais. Observando que não esperava que as taxas de desemprego melhorassem este ano, Singh disse: “Mais pessoas podem morrer de fome do que devido ao vírus”.