Trump: o presidente americano anunciou ontem a saída dos EUA do acordo nuclear do Irã (REUTERS/Jonathan Ernst/Reuters)
AFP
Publicado em 9 de maio de 2018 às 14h24.
A Arábia Saudita e outros dois países do Golfo foram rápidos em apoiar a retirada dos Estados Unidos do acordo nuclear com o Irã, principal rival regional de Riad, mas esperam contragolpes econômicos e de segurança.
Riad, que nunca escondeu suas reservas em relação ao acordo assinado em 2015 entre o Irã e seis potências mundiais, imediatamente aplaudiu o anúncio feito pelo presidente Donald Trump, seu grande aliado.
"O reino apoia e saúda as medidas anunciadas pelo presidente americano em vista de sua retirada do acordo nuclear (...) e o restabelecimento de sanções econômicas contra o Irã", indicou o Ministério das Relações Exteriores da Arábia Saudita.
Os Emirados Árabes Unidos e o Bahrein seguiram o exemplo, elogiando a decisão de Trump.
Riad acusou Teerã de "tirar proveito das receitas geradas pelo levantamento de sanções para desestabilizar a região".
Arábia Saudita e Irã divergem há anos sobre as mais variadas questões. Os dois países apoiam campos opostos na Síria, no Líbano e no Iêmen.
Entre os outros países árabes do Golfo, o sultanato de Omã, que sediou os primeiros contatos secretos que levaram ao acordo nuclear de 2015, reagiu com cautela.
"A opção pelo confronto não é do interesse de ninguém", ressaltou o Ministério das Relações Exteriores do sultanato, que sempre manteve boas relações com o Irã, com quem compartilha o controle sobre o estratégico Estreito de Ormuz.
O Catar e o Kuwait também reagiram com cautela.
"A prioridade deve ser prevenir uma corrida armamentista nuclear", declarou o Ministério das Relações Exteriores do Catar, um país cuja aproximação com o Irã motivou em parte uma grave crise com seus vizinhos do Golfo.
O Kuwait recordou que havia apoiado o acordo nuclear com o Irã, apesar das reservas de alguns países da região, mas "respeita a posição dos Estados Unidos, desde que o objetivo seja garantir a estabilidade" do Oriente Médio.
Um dia após o anúncio americano, a Arábia Saudita foi alvo de uma nova salva de mísseis balísticos disparados por rebeldes huthis do Iêmen, apoiados pelo Irã. Dois foram interceptados por Riad, segundo um canal de televisão saudita.
Para o porta-voz da coalizão liderada pela Arábia Saudita que opera no Iêmen, esses disparos são "uma nova evidência" do apoio militar iraniano aos insurgentes iemenitas, cujas ações desestabilizam toda região.
Na frente econômica, a Arábia Saudita foi rápida em dizer que está pronta para equilibrar o mercado de petróleo, caso seja afetada pela retirada americana do acordo nuclear com o Irã.
"O reino (saudita) trabalhará com os grandes produtores de petróleo dentro e fora da Opep, bem como com grandes consumidores, para limitar o impacto de qualquer escassez de oferta", disse o Ministério da Energia.
Atualmente, as exportações de petróleo do Irã atingem 2,5 milhões de barris por dia (mbd), a maioria destinada à Europa e à Ásia.
A Arábia Saudita, que atualmente bombeia 10 mbd, tem capacidade para produzir 12 mbd diariamente.
Na quarta-feira, a Bolsa de Valores de Dubai caiu 2% por temer o impacto do restabelecimento das sanções contra o Irã.
A cidade-Estado de Dubai, membro da Federação dos Emirados Árabes Unidos, é a mais exposta a qualquer dificuldade da economia iraniana, porque tem fortes laços comerciais com o Irã.
A decisão do presidente Trump é "suscetível de causar uma nova desaceleração na economia do Irã, mas, como as coisas estão, o impacto econômico sobre o resto da região não deve ser grave", apontou o instituto de análise Capital Economics.
"A decisão só vai agravar as tensões geopolíticas no Oriente Médio", ressaltou o instituto.
Em última análise, independentemente de os iranianos decidirem retomar ou não o enriquecimento de urânio e acelerar seu programa militar, haverá uma "corrida nuclear no Oriente Médio", acredita James Dorsey, analista da S. Rajaratnam School of International Studies de Cingapura.
Em março, o príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohammed bin Salman, alertou que, se Teerã se dotar de armas atômicas, seu país fará o mesmo.