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Da Redação
Publicado em 18 de março de 2010 às 11h30.
Não está claro se isso é ruim ou indiferente. Bom certamente não é; talvez seja apenas inevitável. Mas a questão que realmente importa, diante disso, não é o tempo e a energia que os políticos, no governo ou na oposição, gastam tratando de eleições, e sim a capacidade que teriam de ameaçar a estabilidade geral da economia, ancorada, essencialmente, no controle da inflação -- o avanço mais decisivo e transformador que o Brasil teve nos seus últimos 15 anos. A inflação, domada a partir de 1994, não foi extinta, como seria possivelmente o ideal; mas foi reduzida a um nível em que deixou de arruinar a atividade produtiva, a renda da população e a capacidade de investir ou de planejar. Nunca foi, também, o único problema do país, mas sem ser solucionada não poderia haver solução para qualquer outra coisa. Essa mudança, depois de ser feita, criou raízes. Respeitar os ganhos que trouxe, e mantê-la como alicerce central da política econômica, é o compromisso mais importante que o eleitorado pode esperar por parte de qualquer governo -- em 2010, 2014, 2018 ou seja lá quando for.
É positivo constatar que a estabilidade, ao longo dos últimos anos, não foi colocada em risco por eleições e campanhas eleitorais; a esperança, e o que conta de verdade para o Brasil, é que continue sendo assim. Hoje em dia, e provavelmente pela primeira vez na história econômica brasileira, a inflação tornou-se um risco real para os políticos, como costuma observar o ex-ministro Maílson da Nóbrega. O eleitor passou a ser intolerante com tudo o que lembre a baderna inflacionária anterior ao Plano Real; bem poucos candidatos estariam dispostos a ir para uma disputa eleitoral, atualmente, dizendo que controlar a inflação é uma bobagem. Passou a ser claro, para políticos de todas as naturezas, que simplesmente não existe governo forte com moeda fraca -- e ninguém acha bom negócio ir para um governo sem força. Políticos podem continuar gostando dos benefícios que tiram da gastança, mas não se entusiasmam com ideias suicidas; sabem que onde o real não estiver valendo nada a autoridade não valerá muito mais.
Nada ilustra melhor essa visão das realidades do que o atual governo. O presidente Lula, na sua campanha de 2002, dizia que o combate à inflação era uma "farsa" arrumada para beneficar "as elites". Na reta final voltou atrás, prometeu não virar o barco e depois de eleito nunca mais tocou no assunto; ao contrário, seu Banco Central mantém há sete anos uma política anti-inflacionária duríssima. O Brasil, é verdade, ainda não chegou a um estágio de avanço em que a estabilidade básica da economia será mantida qualquer que seja o presidente eleito. Mas já andou um bom caminho nessa direção. É essencial que siga no mesmo rumo.