Crianças jogam futebol em Lusaka, no Zâmbia, em 1993 (Simon Bruty/Getty Images)
João Pedro Caleiro
Publicado em 2 de outubro de 2015 às 13h26.
São Paulo - Economia fraca, moeda em desvalorização, queda de receita, dívida crescente e o rebaixamento por uma agência de rating: podia ser o Brasil, mas é a Zâmbia.
Há uma semana, a Moody's anunciou a redução da nota de crédito do país de B2 para B1 (cinco degraus abaixo do grau de investimento) e trocou a perspectiva de estável para negativa.
A relação entre dívida e PIB mais que dobrou desde 2011 - de 20% para 41% do PIB - e a sua moeda supera até o real em perda de valor desde o começo do ano.
"A principal razão [para o corte da nota] é nossa expectativa de que a tendência de déficits fiscais persistentes e deterioração das medidas de dívida vistas nos últimos anos devem continuar", diz o comunicado.
O governo reagiu com um post na página do Ministério das Finanças no Facebook (depois apagado) pedindo para que os investidores ignorassem a revisão pois ela não foi solicitada e feriu as "melhores práticas" ao não pedir esclarecimentos do governo.
De acordo com a mídia local, o ministro das Finanças Alexander Chikwanda depois diria que a declaração do Ministério não foi autorizada e embaraçou o governo. Ele garantiu que o país não quer entrar em disputa com a agência e não está à beira do colapso.
O Brasil ainda está dois degraus acima do grau de investimento pela Moody's, mas perdeu o selo recentemente pela Standard & Poor's. Enquanto o governo reagia de forma cuidadosa, o ex-presidente Lula afirmava que a decisão "não significa nada".
Quando o país conseguiu o grau de investimento durante seu governo em 2008, Lula disse que aquilo era uma prova de que somos "um país sério, que tem políticas sérias, que cuida de suas finanças com seriedade".
Perfil
A Zâmbia é um país do sul da África com 14,5 milhões de habitantes e sem saída para o mar. É o segundo maior produtor de cobre do continente e depende dele para 70% das suas exportações.
Isso faz com que o país seja muito afetado, assim como o Brasil, pelo processo de queda de preço das commodities disparado pela desaceleração na China.
Isso causa piora no resultado das receitas e não há um corte equivalente dos gastos para equilibrar as finanças. No Brasil, a instabilidade política é o outro fator de piora desse processo. Na Zâmbia, há o problema de escassez de energia elétrica e apagões.
Ainda assim, a Zâmbia deve crescer pouco menos de 5% este ano, contra 7% em média na última década. No Brasil, que vem desacelerando desde um pico de 7,5% em 2010, o consenso é de uma recessão de 2,8% este ano.
Vale lembrar que a situação de desenvolvimento dos dois países é muito diferente por qualquer outro ponto de vista.
O PIB per capita da Zâmbia é um décimo do brasileiro (US$ 1844 contra US$ 11.208) e seu índice de desenvolvimento humano é um dos mais baixos do mundo (163º lugar no ranking, contra 85º do nosso).