Carteira de trabalho: de acordo com o levantamento, existem outros 18,2 milhões de brasileiros fora da força de trabalho (Gabriel Ramos/Getty Images)
Agência O Globo
Publicado em 3 de julho de 2020 às 17h23.
Última atualização em 3 de julho de 2020 às 20h16.
Cerca de 700.000 brasileiros entraram no contingente de desempregados só na segunda semana de junho. O total de pessoas que procurou e não encontrou trabalho passou de 11,2 millhões na primeira semana do mês passado para 11,9 milhões no período de 7 a 13 junho.
No início de maio, o total de desocupados era de 9,8 milhões. Os dados são da Pnad Covid, pesquisa telefônica do IBGE, divulgada nesta sexta-feira. Para os especialistas, os indicadores apontam para um agravamento da situação do emprego no país.
A pesquisa também mostra que mais de um milhão de pessoas que estavam afastadas do trabalho devido ao distanciamento social voltaram às suas atividades na segunda semana de junho. Comparando com os primeiros dias de maio, o aumento é de 4,2 milhões de trabalhadores.
No início de maio, o total de desocupados era de 9,8 milhões. Os dados são da Pnad Covid, pesquisa telefônica do IBGE, divulgada nesta sexta-feira.
Para Yuri Lima, pesquisador da Coppe/UFRJ, as estatísticas apontam para um agravamento da situação do emprego no país.
— A taxa de desocupação, apesar de uma certa estabilidade, temos um crescimento. Uma parte da população não está conseguindo nem procurar emprego por conta da pandemia. Apesar de muitas pessoas estarem voltando ao trabalho, algumas empresas podem não existir quando o mercado voltar a atividade.
De acordo com o levantamento, existem outros 18,2 milhões de brasileiros fora da força de trabalho, que gostariam de ter emprego e não procuraram vaga por causa da pandemia ou por não encontrarem trabalho na localidade em que moravam.
Para coordenadora da pesquisa do IBGE, Maria Lucia Vieira, com as medidas de reabertura, a população começa a procurar emprego e uma recolocação no mercado de trabalho. Segundo a especialista, as respostas de retomada serão distintas de acordo com as medidas de isolamento social de cada região do país.
— Aos poucos as atividades foram retomando e a população começa a se sentir confortável de procurar emprego. Vai depender muito do que vai acontecer das definições dos governos estaduais em relação ao distanciamento. A tendência é que essa recuperação do emprego seja muito regional — explica a coordenadora fazendo menção ao caso de lockdown da região centro oeste.
O IBGE aponta que a população fora da força de trabalho, que não estava empregada nem procurava vaga, era de 74,9 milhões de pessoas. Na comparação com a semana anterior, o indicador apresentou estabilidade.
Segundo a pesquisa, a população ocupada está estimada em 83,5 milhões de brasileiros. O nível de ocupação caiu 0,3% em comparação a semana anterior, passando a 49%.
O economista e professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Mauro Rochlin, destaca que a proximidade do fim das medidas instituídas pelo governo de estabilidade de emprego, como a MP 936 que permite a redução de jornada e salários, traz um panorama de instabilidade para os próximos meses.
— Estamos vivendo um período de transição, saindo de um relativo isolamento para uma situação de liberalização, ainda que não total. Não acredito em uma retomada nos mesmos níveis que víamos antes da pandemia. Alguns setores podem sofrer mais do que os outros. As medidas que o governo tomou tem data marcada para acabar.
Maria explica que como os trabalhadores informais foram os primeiros afetados pelos efeitos da pandemia, há uma tendência que essa parcela da população que muitas vezes não tem reserva financeira procure por empregos formais. Além disso, a estabilidade do número de trabalhadores remotos sinaliza que a modalidade de trabalho não presencial pode ser uma tendência após a pandemia.