Zona do Euro: há poucas chances de que uma grande reforma da infraestrutura do bloco seja realizada em breve (Daniel Roland/AFP)
Da Redação
Publicado em 2 de agosto de 2016 às 21h06.
A zona do euro pode estar desperdiçando uma boa crise novamente.
Embora os maiores bancos tenham obtido um atestado de saúde nos testes de estresse e um plano de recapitalização para o Banca Monte dei Paschi di Siena, que teve o pior desempenho, os investidores não se convenceram de que os males dos bancos da região tenham sido curados.
Para piorar, há poucas chances de que uma grande reforma da infraestrutura do bloco seja realizada em breve.
À medida que se aproximam as eleições do ano que vem na França, Alemanha e Holanda, diminuem as perspectivas de progresso político para fortalecer a confiança na durabilidade da moeda comum, mesmo com a urgência trazida pelo divórcio entre o Reino Unido e a União Europeia.
A zona do euro, de 19 países, continua mostrando uma cisão fundamental quanto ao rumo de sua incompleta união bancária e quanto a como criar um orçamento comum para complementar a política monetária.
“Havia certa esperança de que a queda forte do setor bancário após o Brexit assustaria os dirigentes e faria com que eles agissem -- parece que isso não aconteceu”, disse Raoul Ruparel, um dos diretores do think tank Open Europe, com sede em Londres.
“Existe a preocupação de que o pedido por ‘mais Europa’ -- mais integração bancária e fiscal -- transmita uma mensagem equivocada aos eleitorados onde um mal-estar em relação ao euro já se instaurou”.
Nos testes de estresse realizados pela Autoridade Bancária Europeia com 51 bancos, publicados na sexta-feira, apenas o Monte Paschi sofreu uma perda de capital em um cenário econômico adverso.
O banco anunciou um plano para compensar os empréstimos de liquidação duvidosa e recorrer aos acionistas para reconstruir as reservas de capital.
Embora os testes dos bancos tenham mostrado que a maioria deles manteria um nível de capital adequado em uma crise, as ações financeiras encabeçaram as quedas no índice Stoxx Europe 600 na segunda-feira, tal como vêm fazendo no ano até agora.
Não faltam propostas sobre como solidificar o bloco -- mas falta consenso. Em linhas gerais, há duas perspectivas opostas: a alemã e uma versão mais popular perto do Mediterrâneo.
A primeira enfatiza o retorno da responsabilidade nacional; a segunda, um movimento para um maior compartilhamento dos riscos.
Opiniões opostas
A visão alemã remonta ao desejo de que o euro seja um clube de países independentes, mas que seguem as mesmas regras, no espírito do fundador Tratado de Maastricht.
Nesse sentido, o banco central alemão e o grupo de economistas que assessora o governo propuseram versões de um mecanismo de reestruturação de dívida soberana, baseado no fundo de recuperação do mecanismo de estabilização europeia, que recuperaria a credibilidade da cláusula de “não resgate” da lei europeia.
Em contraste, as propostas na Itália e na França implicam compartilhar mais riscos pelas fronteiras, em vez de menos.
A Itália defende um plano de seguro-desemprego da zona do euro.
E ambas querem que se complete o que foi decidido em 2012, quando havia uma ameaça de implosão iminente: uma união bancária que compartilhe as tarefas de supervisão, resolução e garantia de depósitos.