Economia

Otimistas veem retomada do crescimento com juro baixo

Alguns analistas dizem que os mercados podem estar subestimando o impacto da política monetária e da agenda de reformas

Esperança: embora ainda seja difícil ver nos dados uma melhora à frente, alguns economistas apontam sinais de recuperação (Brian Snyder/Reuters)

Esperança: embora ainda seja difícil ver nos dados uma melhora à frente, alguns economistas apontam sinais de recuperação (Brian Snyder/Reuters)

Ligia Tuon

Ligia Tuon

Publicado em 25 de outubro de 2019 às 06h02.

Última atualização em 25 de outubro de 2019 às 06h02.

Após anos de crescimento decepcionante, projeções otimistas de Mitsubishi UFJ Financial Group Inc, Credit Suisse e ING Financial Markets LLC dizem que 2020 é o ano em que o Brasil finalmente apresentará uma surpresa positiva.

Embora os economistas tenham reduzido as previsões para o PIB do próximo ano de 2,8% para 2%, em março, alguns analistas dizem que os mercados podem estar subestimando o impacto da política monetária e da agenda de reformas no crescimento e na confiança dos negócios. O país está nos estágios iniciais de um longo ciclo de crescimento, dizem eles, deixando amplo espaço para uma forte retomada.

A cautela geral diminuirá gradualmente e isso aumentará o impacto do ciclo de flexibilização, diz Gustavo Rangel, economista-chefe para América Latina do ING em Nova York. “O ambiente de menor incerteza fiscal e maior estímulo monetário deve levar a uma aceleração de crescimento bem maior nos próximos trimestres”.

Rangel, que prevê que a economia crescerá 2,4% no próximo ano, disse que a aprovação final da reforma da Previdência - prevista para esta semana - aumentará a confiança e permitirá que o Congresso avance com outras reformas, privatizações e concessões, que também devem ajudar a atividade.

O crescimento é frequentemente mencionado pelos investidores como o elo perdido no Brasil. Mesmo com taxas baixas e expectativa de novos cortes da Selic, a maioria dos dados ainda aponta para uma recuperação lenta: as vendas no varejo em agosto vieram abaixo do previsto, assim como a proxy do PIB medida pelo BC, o IBC-Br, e a deflação surpresa do IPCA em setembro.

O Brasil cresceu a um ritmo anual de 1% no segundo trimestre do ano e economistas consultados pela Bloomberg preveem o mesmo para o terceiro trimestre.

Mauricio Nakahodo, economista do Banco MUFG Brasil, diz que a inflação moderada, a expectativa de aumento do emprego com carteira assinada, a queda das taxas de juros oara empréstimos a famílias e empresas e uma aceleração gradual dos investimentos produtivos permitirão que a economia cresça 2,8% no próximo ano. Ele é o mais otimista entre os 31 economistas que registraram suas projeções na Bloomberg.

Existem boas condições para alguma aceleração no ritmo de crescimento econômico, principalmente no quarto trimestre, disse Nakahodo. Segundo ele, o carrego estatístico para 2020 já implica um crescimento de 0,9%.

Sinais de recuperação

Embora ainda seja difícil ver nos dados uma melhora à frente, alguns economistas apontam sinais de recuperação. O Morgan Stanley diz que surpresas positivas, como a produção industrial de agosto, juntamente com o progresso da reforma da Previdência, sugerem que a economia pode ter atingido o fundo do poço e uma lenta recuperação pode estar em andamento.

A previsão de crescimento de 2,7% do Credit Suisse para o próximo ano é parcialmente baseada na expectativa de que uma flexibilização monetária agressiva dará impulso a novos empréstimos para empresas e famílias nos próximos trimestres.

“A forte melhora nas condições financeiras nos últimos meses, com o início do ciclo de flexibilização monetária, deve ser o principal fator para a retomada da atividade econômica”, escreveram os economistas Leonardo Fonseca e Lucas Vilela em nota.

Samuel Pessoa, sócio do Julius Baer Family Office, diz que a economia crescerá 2,5% no próximo ano, à medida que o impacto de choques negativos, como a crise argentina e o rompimento na barragem de Vale em Brumadinho, deixarem de aparecer nos números da atividade.

Sem contar esses choques, a economia já está crescendo perto de 2%, disse Pessoa.

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