A diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Kristalina Georgieva, no encontro anual do Fórum Econômico Mundial, em Davos, em 23 de maio de 2022 (AFP/AFP)
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Publicado em 26 de julho de 2022 às 13h34.
A economia mundial está há meses sob uma tempestade que mina as expectativas de crescimento, mas ainda pode piorar até cair a um dos níveis mais baixos em cinco décadas - advertiu o Fundo Monetário Internacional (FMI) nesta terça-feira, 26.
Se essa previsão de riscos se materializar, então o crescimento mundial poderá cair para 2,0% em 2023. Confira abaixo os principais riscos para as perspectivas globais:
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Segundo o FMI, há "muita incerteza" sobre os níveis de fornecimento de gás russo à Europa para 2022 e 2023, enquanto se observa uma queda de 40% desde abril, em relação ao ano passado.
O relatório levanta a possibilidade de que as exportações de gás russo possam parar completamente, o que poderia forçar os países europeus a racionar a energia. Isso afetaria setores industriais importantes.
Esta possibilidade reduziria “significativamente” o crescimento da zona do euro em 2022 e 2023 e teria um eco “transfronteiriço”.
Embora "se espere" que a inflação volte aos níveis pré-pandemia antes do fim de 2024, as pressões adicionais podem fazer a inflação se consolidar, alerta o FMI. E, se as pressões forem muito fortes, podem criar uma situação de “estagflação”, ou seja, com economias estancadas, ao mesmo tempo em que a vida se encarece por uma inflação alta.
O FMI está preocupado que os bancos centrais, em suas tentativas de conter a inflação, estejam indo longe demais. Se não escolherem bem as taxas de juros, os bancos centrais se expõem a uma forte queda da demanda.“O risco de recessão é particularmente proeminente em 2023”, analisa o relatório.
Com o aumento das taxas de juros nas economias desenvolvidas, será mais caro obter créditos e, sem uma política monetária adequada, existe o risco de que as moedas nacionais se desvalorizem, consideravelmente, em relação ao dólar. E isso também ocorreria em um momento, em que a situação financeira de muitos Estados já é "tensa", segundo o FMI.
A instituição estima que 60% dos países de baixa renda correm o risco de se encontrar, ou já estão, em dificuldades de endividamento. Há dez anos, o número era de cerca de 20%.
As expectativas atuais do FMI preveem uma recuperação da economia chinesa durante o segundo semestre de 2022, depois de um primeiro semestre do ano marcado por inúmeras medidas restritivas, devido à pandemia da covid-19.
Essas medidas prejudicaram a atividade manufatureira local e, por extensão, a mundial. Acompanhado da política de "covid zero" do governo chinês, um novo surto de covid-19 poderá afetar a economia da China, com "importantes repercussões em nível mundial", afirma o FMI.
Como os gastos com alimentos e energia são insubstituíveis, a inflação atual “representa uma ameaça não apenas para a estabilidade econômica, mas também para a estabilidade social”, ressalta o FMI.
A instituição tem, assim, observado um aumento dos protestos desde o fim da fase aguda da pandemia.
"Os preços mais altos dos alimentos e da energia são fortes indicadores de distúrbios", diz o Fundo.
O principal fator que impulsionou o aumento dos preços dos alimentos foi o bloqueio da Rússia às exportações de grãos da Ucrânia.
O FMI também teme um "risco grave para as perspectivas de médio prazo com a guerra na Ucrânia": uma fragmentação da economia mundial em blocos geopolíticos com diferenças significativas em padrões tecnológicos, sistemas de pagamentos internacionais e reservas de divisas.
“A fragmentação também pode diminuir a eficácia da cooperação multilateral para responder à mudança climática, com o risco adicional de que a atual crise alimentar se torne a norma”, conclui o FMI.
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