Economia

Os serviços ambientais da floresta e o risco do desmatamento

Nos últimos 30 anos, em função do desmatamento, o valor do serviço amazônico encolheu US$ 173 bilhões

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 11h03.

Criada nos anos 90, a economia ecológica é um novo ramo da ciência dedicado a precificar o capital natural. Há 11 anos, um time de cientistas liderados pelo americano Robert Costanza, hoje pesquisador da Universidade de Vermont, trabalha no desenvolvimento de um modelo que avalia um conjunto de 17 tipos de serviços prestados pelos ecossistemas - do abastecimento de água e regulação climática ao fornecimento de alimentos, como peixes, frutas e castanhas. Reunidos, tais serviços ambientais originaram a sigla ESV - o valor dos serviços ambientais, na tradução do inglês. Para calcular o valor de um ecossistema, o modelo usa equações que consideram a área, a biodiversidade e o rendimento de commodities como a água e os peixes nos mercados internacionais. Atualizado pela consultoria Tendências, com a orientação de Costanza, em 2008 o valor dos serviços prestados pela Amazônia brasileira atinge 692 bilhões de dólares por ano. Nos últimos 30 anos, em função do desmatamento, o valor do serviço amazônico encolheu 173 bilhões de dólares.

Ainda assim, a capacidade de seqüestrar o gás carbônico - um dos responsáveis pelo aquecimento global - e o equilíbrio climático continuam a ser serviços cruciais prestados pela floresta. De acordo com a pesquisadora Rosimeiry Portela , especialista da ONG americana Conservação Internacional na modelagem de serviços ambientais, o valor específico da floresta brasileira em termos de regulação climática e de gases, sobretudo o seqüestro de gás carbônico, chega hoje a 205 bilhões de dólares. O modelo computacional usado por Rosimeiry em sua tese de doutorado indica que se o nível de desmatamento se mantiver na taxa atual, em 2100 a floresta estará reduzida a 26% da área original.  "A mudança de uso de solo na Amazônia gera perdas significativas de serviços do ecossistema, sem que elas se traduzam em significante mudança de renda ou o bem-estar da população da região," diz Rosimeiry.

 Um dos ativos mais valiosos é a água presente na cobertura vegetal e nos mais de 2 000 rios e igarapés da floresta. Além de abastecer o próprio ecossistema, a umidade amazônica cumpre papel crucial na regulação climática de boa parte do continente sul-americano. Estudos desenvolvidos desde os anos 70 pelo físico brasileiro Enéas Salati constataram que a floresta "exporta" parte da umidade para o centro-sul do Brasil. "Uma árvore de grande porte chega a transpirar 200 litros de água por dia," diz Salati. "Esse vapor d';água sobe para a atmosfera, viajando na forma de correntes de ar de baixa altitude, que funcionam como se fossem rios voadores."

Logo, a água amazônica é responsável por parte das chuvas que caem não apenas em território brasileiro, mas até mesmo na Argentina. Estudos recentes realizados em parceria pela Nasa , a agência espacial americana, o Inpa e o Inpe acusam a redução da quantidade de vapor d';água na porção leste da atmosfera amazônica, no chamado arco do desmatamento. "O recado dos cientistas não poderia ser mais claro: o avanço do desmatamento da Amazônia deverá reduzir dramaticamente o volume de chuvas no centro-sul do país," diz o ecologista Philip Fearnside , do Inpa. "O resultado pode vir a ser racionamento de água e energia no Rio e São Paulo e perdas para o agronegócio." Daí a necessidade de que se comece a pagar para manter a floresta de pé. "Um dos caminhos mais promissores é o mercado de créditos de carbono, que deve explodir na próxima década," diz o biólogo americano Thomas Lovejoy , uma das maiores autoridades mundiais sobre a região.

 Criado no âmbito do Protocolo de Kyoto, o mercado de carbono prevê que países e empresas poluidoras remunerem projetos de reflorestamento e também os donos de florestas para mantê-las de pé. Segundo o Banco Mundial, no ano passado o mercado de carbono movimentou 64 bilhões de dólares. Mas o quinhão brasileiro nesse mercado ainda é medíocre: foram 500 milhões de dólares em 2007. Com o término do governo George W. Bush, os Estados Unidos devem investir pesadamente em créditos de carbono. A previsão do governo americano é que, em 2020, apenas a participação do país nesse comércio chegue a 2 trilhões de dólares. Sendo a maior floresta do planeta, a Amazônia deverá se beneficiar desse mercado.

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