Campo de Libra: a maior descoberta já feita no Brasil promete a produção de 1,4 milhão de barris de petróleo por dia (Alfredo Estrella/AFP)
Da Redação
Publicado em 21 de outubro de 2013 às 07h54.
São Paulo - Na próxima segunda-feira, dia 21, vai à leilão a "menina dos olhos" do governo brasileiro, o Campo de Libra. Localizada na Bacia de Santos, a região é a maior descoberta do pré-sal até agora e promete a produção de 1,4 milhão de barris de petróleo por dia, mais da metade do que o país produz atualmente..
Ao mesmo tempo em que as estimativas e promessas atingem números impressionantes, os perigos envolvidos em leiloar a maior descoberta de petróleo já realizada no Brasil através de um modelo inédito no setor preocupam.
Veja a seguir quais são os principais perigos envolvidos do leilão do Campo de Libra:
1 Sobrecarregar a Petrobras
A participação obrigatória da Petrobras na operação de todos os poços do Campo de Libra pode fazer com que a empresa deixe de lado outros campos – mesmo aqueles mais vantajosos do ponto de vista comercial e de produção – por falta recursos para investimento.
Como a petroleira já está bastante endividada - foi essa a razão para que ela tivesse, no começo do mês, a nota de crédito rebaixada pela Moody's - e com dificuldades para levantar recursos no mercado internacional, os investimentos necessários para a exploração do pré-sal podem sobrecarregar as contas da empresa, cujas dívidas aumentam a cada minuto com a política do governo de segurar o preço da gasolina.
Alguns especialistas apontam que a gigante Petrobras - e seu plano mastodôntico de investiomentos de 236 bilhões até 2017 - pode ter dificuldade para cumprir tudo que é esperado dela, agora com o peso do pré-sal.
2 Modelo de partilha não dar certo
O Campo de Libra é a maior reserva de petróleo já encontrada no Brasil e representa uma grande oportunidade não só do ponto de vista energético, mas também social. Nenhum barril foi produzido ainda, mas o dinheiro dos royalties já foi prometido para áreas prioritárias como saúde e educação. Por isso, parece delicado que se tenha escolhido um novo marco regulatório para fazer a licitação desta área.
Ao contrário dos leilões anteriores, o modelo em Libra é o de partilha de produção, e não concessão. O vencedor será o grupo que oferecer ao governo a maior fatia de "óleo lucro" – petróleo produzido depois de pagos os investimentos iniciais feitos pelas empresas - para vender por conta própria.
O lance mínimo é de 41,65% de participação, mas o governo espera que as ofertas cheguem a 75% ou mais.
O novo modelo é mais atrativo financeiramente para o governo, mas não para as empresas. O problema é que a alta taxa de participação do Estado nos lucros, somada a operação obrigatória e exclusiva da Petrobras, deixou as grandes petrolíferas internacionais receosas com o pré-sal.
A Agência Nacional do Petróleo (ANP) esperava que mais de 40 empresas se inscrevessem para participar do leilão, mas apenas 11 pagaram a taxa de R$ 2,05 milhões. Gigantes como Exxon Mobil, BP, BG Group e Chevron ficara de fora.
3 Baixar o preço do petróleo nacional
O gigantismo de Libra, sem uma estratégia correta, poderia derrubar o preço do petróleo brasileiro no mercado.
“O modelo impõe metas muito altas de extração, o que é ruim não só para a Petrobras, que pode não ter a capacidade de investimento necessária, como também para o preço do petróleo brasileiro no mercado internacional”, afirma a professora Maria Beatriz de Albuquerque David, da Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ).
Para ela, que considera o modelo predatório do ponto de vista financeiro, uma exploração do tamanho de Libra demanda uma estratégia de extração que leve em conta que o petróleo é um recurso não renovável e que o país precisa regular a sua exploração de acordo com a demanda e com os preços no mercado.
4 Produção incerta
O setor de petróleo e gás é particularmente sensível quando se fala em estimativas. O próprio governo adicionou ontem um elemento de surpresa na equação de Libra ao aumentar sua previsão de produção diária a apenas quatro dias do leilão.
Originalmente, a ANP afirmava que a previsão de produção era de 1 milhão de barris por dia. Nesta semana, no entanto, a diretora-geral da ANP, Magda Chambriard, elevou a expectativa para 1,4 milhão de barris por dia em seu pico de produção - o que deve acontecer entre 10 a 15 anos.
De qualquer maneira, Libra é a maior descoberta de petróleo já realizada no Brasil. Segundo estimativas da ANP, a região possui de 8 a 12 bilhões de barris de petróleo recuperável, dois terços de todas as reservas brasileiras.
5 Perda de espaço no mercado internacional
O modelo brasileiro de concessão é reconhecido como um dos mais eficientes do mundo. Como mostrado pela revista EXAME, o modelo inspirou outros países da América Latina, como México e Colômbia.
No caso colombiano, o país vizinho passou a fazer leilões regulares em um modelo parecido com o brasileiro em 2004. Como resultado, em janeiro deste ano, a estatal colombiana (a Ecopetrol, que também vai disputar Libra) superou o valor de mercado da Petrobras, que produz três vezes mais.
Já o México, que está em processo de reforma do setor, mandou executivos da estatal Pemex ao Brasil para conhecer a regulação, pois cogitam trocar seu modelo de partilha pela concessão.
“A possibilidade de um modelo mais favorável no México e o risco político no Brasil pesaram na decisão das operadoras que desistiram de Libra”, diz o consultor Adriano Pires, do Centro Brasileiro de Infraestrutura, à EXAME. “Isso pode tirar investimentos do Brasil e até fazer o pré-sal valer menos.”
6 Confusão no lelião
O leilão desta segunda-feira deve ser cercado por protestos. Nesta quinta-feira, funcionários da Petrobras entraram em greve para protestar contra a realização do leilão. Eles argumentam que o governo está entregando a "joia da coroa" a "´preço de banana" para as empresas estrangeiras. Para garantir que o leilão ocorra em segurança, o governo já enviou tropas do Exército ao Rio de Janeiro.