Economia

Os dois tipos de lojas que devem sobreviver à revolução do varejo

A ascensão do comércio eletrônico é inevitável, mas dois tipos de lojas físicas ainda têm futuro, diz líder da unidade de consumo americana do Goldman Sachs

Mulheres olham vitrine no shopping (gpointstudio/Thinkstock/Thinkstock)

Mulheres olham vitrine no shopping (gpointstudio/Thinkstock/Thinkstock)

João Pedro Caleiro

João Pedro Caleiro

Publicado em 29 de agosto de 2017 às 16h35.

Última atualização em 29 de agosto de 2017 às 18h58.

São Paulo - O varejo nunca mais será o mesmo.

A ascensão do comércio eletrônico é inevitável, mas dois tipos de lojas físicas ainda têm futuro, diz Matt Fassler, líder da unidade de consumo americano do Goldman Sachs, em um podcast recente do banco.

Por um lado, há os grandes centros de distribuição geralmente afastados das grandes cidades e com foco em custo mínimo e eficiência máxima, com zero cuidado estético e poucos clientes espontâneos.

Por outro, há os showrooms que exibem produtos de forma atrativa em localidades centrais e dependem totalmente dos consumidores casuais que passam pela área.

O conselho de Matt é escolher um ou outro, já que os modelos com ambos serão difíceis de monetizar.

No momento, muitas empresas estão tentando ser tão eficientes quanto a Amazon na distribuição, mas usam como base lojas normais localizadas em áreas com o metro quadrado muito caro.

Mas a Amazon, ao levantar tanto dinheiro e tolerar tantas perdas no começo da sua operação, ganhou uma vantagem competitiva que funciona na prática hoje como uma barreira à competição, diz ele.

Além disso, o comércio eletrônico conta com vantagens intrínsecas: a loja online sabe de antemão seu nome, seu histórico de compras, o que você clicou e em qual ordem, o que está fora do alcance de uma loja normal.

Essa desigualdade pode diminuir com a evolução da inteligência artificial e a internet das coisas, com sensores que captem quem está na loja e rastreadores que registrem a resposta facial aos bens.

Em uma loja experimental da Amazon em Seattle, atualmente aberta só para funcionários, você nem precisa passar por um scanner: só de sair da loja, ela já computa o que você comprou.

A "loja do futuro" exigiria funcionários mais capazes de interpretar dados (e que teriam de ser melhor pagos), mas seria mais eficiente em manipular suas vontades e fazer você comprar. A dúvida é até que ponto os varejistas transformarão esse ideal em realidade.

O fechamento de lojas nos Estados Unidos nunca foi tão acelerado e 20% a 25% dos grandes shopping centers do país devem fechar em 5 anos, de acordo com um relatório recente do banco Credit Suisse.

Mas shoppings são mais desafiadores por causa da interdependência entre seus elementos: o fim de uma loja âncora, por exemplo, afunda todo mundo, e um shopping com muitos vazios se torna disfuncional.

Kathy Elsesser, co-diretora de varejo e consumo global da banca de investimentos do Goldman Sachs, nota em outro podcast do banco que “os melhores shoppings continuam a ter uma boa performance, e os que não estão tão bem vão evoluir”.

A tendência é de alugueis em queda e “de-gentrificação”, além de foco no acesso (ao invés da posse) e na experiência como um todo (ao invés do produto isoladamente).

"Investir num negócio em declínio é uma tarefa dura”, diz Matt, "mas os vencedores vão fazer isso porque a melhor forma de manter uma loja física é investindo na loja física”.

Afinal, esse varejo de "tijolo e cimento", como diz a expressão americana, ainda responde por 85% do valor movimentado.

Mesmo se o comércio eletrônico seguir crescendo 15% por ano nos próximos 5 anos, a parcela das lojas físicas ainda será de 70%.

"O negócio pode estar ficando menor no agregado, mas é certamente grande o suficiente para importar e assim será por um longo período", diz Matt.

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