Com a carga toda: nos próximos 10 anos, os elétricos se tornarão uma opção mais econômica do que os carros à gasolina na maioria dos países, prevê estudo. (Getty Images/Getty Images)
Vanessa Barbosa
Publicado em 29 de fevereiro de 2016 às 10h06.
São Paulo - Não restam dúvidas de que os carros verdes vieram para ficar. As principais montadoras do mundo investem cada vez mais em modelos de menor consumo de combustível e impacto ambiental que, aos poucos, caem no gosto dos consumidores. O preço, naturalmente, ainda é um empecilho para a expansão em massa deste mercado. Mas isso deve mudar.
Uma nova pesquisa da Bloomberg New Energy Finance (BNEF) sugere que, com a contínua redução dos preços das baterias, os veículos elétricos e híbridos se tornarão, até 2025, uma opção mais econômica na maioria dos países, até mesmo do que os modelos a gasolina ou diesel. Adicione mais alguns anos, e o cenário é ainda mais promissor.
O estudo, publicado nesta quinta-feira (25), prevê que as vendas globais de EVs (do inglês 'Electric Vehicle') irão bater 41 milhões em 2040, representando 35% das vendas de veículos novos leves. Isso seria quase 90 vezes o valor equivalente às vendas de 2015, estimadas em cerca de 462 000, 60% a mais que em 2014.
Atualmente, só um país no mundo tem taxas quase tão elevadas assim — a Noruega, onde os veículos movidos a eletricidade já representam um quarto das vendas totais de quatro-rodas. Dono de uma das maiores reservas de petróleo do mundo (e de um dos litros de gasolina mais caros), o país não apenas eliminou impostos sobre os automóveis limpos, como passou a oferecer estacionamento gratuito e acesso a corredores de ônibus.
No cerne da previsão da BNEF está uma análise sobre os preços das baterias, que caiu vertiginosamente nos últimos anos. Para se ter uma ideia, os custos das bateria de íon de lítio reduziram 65% desde 2010, chegando a US$ 350 por kilowatt-hora (kWh) de energia armazenada no ano passado. E não para aí: a expecativa é que chegue a menos de US$ 120 por kWh em 2030.
Esta tabela da BNEF mostra a projeção do crescimento das vendas de modelos híbridos e elétricos no mundo:
Esta mudança de motorização projetada para os próximos anos terá implicações para além do mercado de automóveis. Segundo os analistas da BNEF, o aumento iminente de veículos elétricos poderia desencadear uma nova rodada de problemas para a indústria petrolífera.
Pelos cálculos, um quarto de carros "verdes" nas estradas do mundo até 2040 representará menos 13 milhões de barris por dia de petróleo.
Por outro lado, quanto mais pessoas começam a recarregar seus carros nas tomadas elétricas, em vez de encher o tanque nos postos de gasolina, maior será a pressão sobre os sistemas de geração de energia dos países.
Na ponta do lápis, uma frota eletrificada em peso representaria uma demanda extra de 1 900 kWh de eletricidade, ou cerca de 8% do consumo global de eletricidade em 2015, segundo o estudo.
Para realizar essa previsão, os analistas da BNEF basearam-se na recuperação do preço do petróleo bruto para a casa dos US$ 50, e em seguida voltando até US$ 70 ou mais até o ano de 2040.
O mais curioso, de acordo com o estudo, é que se o preço do petróleo cair para US$ 20 e estacionar aí, a adoção em massa dos EVs só iria atrasar cerca de cinco anos.
Apesar do rápido crescimento do mercado de carros elétricos e híbridos — e seus 1,3 milhão de modelos vendidos em todo o mundo, com destaque para o Nissan Leaf e o Chrevrolet Volt —, eles ainda representam menos de 1% das vendas de veículos comerciais leves atualmente.
Neste contexto, os governos continuam a desempenhar um forte papel em várias áreas relacionadas com a adoção de veículos elétricos. De todos os fatores que impulsionam este mercado, o subsídio à compra direta ainda é o mais eficaz. Porém, outras investidas também ajudam a impulsionar os verdinhos.
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"Foi a combinação de incentivos fiscais, estacionamento exclusivo e acesso a corredores de veículos que levaram os elétricos na Noruega a um quarto das vendas totais bem antes do que se pensava possível na maioria dos países", disse à EXAME.com Colin McKerracher, analista líder de transporte avançado na BNEF.
"Mas os governos também têm um papel ativo na promoção de infraestrutura especial. Por exemplo, recentemente, um regulador na Califórnia aprovou dois grandes planos de serviços públicos para a construção de redes de infraestrutura de recarga, repassando esses custos através de tarifas de eletricidade", sublinha.
No Brasil, desde outubro do ano passado, os carros elétricos estão isentos da tarifa de importação de 35%, o que em teoria ajudaria a estimular as vendas por aqui. Mas, segundo o especialista, pelo menos ao longo dos próximos cinco anos, a penetração dos elétricos no país ainda será bastante limitada: "provavelmente menos de 1% das vendas de veículos novos e principalmente focado em modelos mais sofisticados".
"A partir de meados da década de 2020, esperamos um crescimento mais forte, com a redução dos custos do veículos e melhorias no desempenho", destaca McKerracher.
Seja como for, a verdade é o que Brasil tem um perfil bem diferente quando o assunto é eletrificação dos transportes.
"No Brasil, a pressão para a redução das importações de petróleo e das emissões de gases efeito estufa são menos críticas por causa da forte indústria nacional de etanol", observa o analista.