Os 7 grandes desafios para a Europa, segundo a EIU
O Reino Unido vai deixar o bloco? E a Grécia? Como lidar com os refugiados? E com a Rússia? Respostas para questões como essas vão definir o destino do UE
(Des)união (Francois Lenoir / Reuters)
João Pedro Caleiro
Publicado em 10 de maio de 2016 às 06h00.
Última atualização em 13 de setembro de 2016 às 14h15.
São Paulo - Para quem acompanha a situação da Europa, é constante a sensação de que o pior já passou - mas o melhor também. Eis o impasse: enquanto muitos sugerem que a solução para o bloco é mais ação coletiva, as questões econômicas e identitárias atuam incessantemente pela desintegração. O bloco que conseguiu garantir a estabilidade do continente após os horrores de duas guerras mundiais salvou o euro, mas hoje está resignado a se arrastar de dificuldade em dificuldade. O diagnóstico é de um relatório recente da Economist Intelligence Unit, braço de análise da revista The Economist, com o título "Esticada até o Limite". São identificados 7 grandes desafios para a economia do bloco, que teria capacidade de lidar com essas crises individualmente, mas talvez não com uma combinação delas. Veja a seguir:
Fronteiras, soberanias e identidades: o aumento dramático do número de refugiados que chegam na Europa mexe com temas nevrálgicos. Especialistas apontam ganhos econômicos com a imigração em um continente cada vez mais envelhecido, mas os políticos discordam sobre a divisão do fardo (que tem caído justamente sobre a combalida Grécia). Há sinais de que o grande acordo feito com a Turquia em março esteja segurando o fluxo, mas é cedo para dizer. Outro número a ser observado, segundo a EIU, é a aprovação de Angela Merkel, forçada a recuar de uma meta ambiciosa para entradas de refugiados.
No dia 23 de junho, os britânicos vão decidir se deixam ou não a União Europeia. Apesar de erros recentes da campanha do "fico", a chance maior é que a saída seja evitada com apoio do establishment político e econômico e do eleitorado jovem e urbano. Em caso de "Brexit", todas as regras teriam que ser renegociadas e a UE provavelmente dificultaria a vida dos britânicos, sob risco de estimular a debandada de mais países. Relatórios calculam que o país teria perdas substanciais em termos de crescimento, empregos, investimento, confiança e projeção - e a Europa também perderia, ainda que em menor grau.
Parlamentares gregos aprovaram ontem um pacote de reformas que avançou as negociações para obter mais fundos de resgate dos credores. O relatório da EIU é mais antigo, mas já previa que dificilmente este (ou qualquer) governo grego conseguirá implementar as medidas necessárias. E mesmo com sucesso, o país não teria crescimento e harmonia social. Por isso a previsão é que a Grécia deixe a zona do euro no espaço de 5 anos. Com moeda mais fraca, poderia voltar a crescer vigorosamente já no médio prazo. O bloco é hoje muito mais preparado para a chamada "Grexit", reduzindo os riscos de contágio, mas ela sepultaria de vez a noção de que a integração é irreversível.
5. Banco Central: o único jogo rolandozoom_out_map
5/9(Ralph Orlowski/Reuters)
Os governos europeus tem pouco espaço fiscal para gastar e não querem (ou não tem como) usar capital político para fazer reformas. O resultado: o peso de sustentar a recuperação fica todo com o Banco Central Europeu - e seu presidente, Mario Draghi, não tem hesitado em recorrer a medidas "fortes e criativas", segundo a EIU. A consequência: muitos países da UE que não adotam o euro assistem ao fortalecimento excessivo de suas moedas e reagem com intervenções no mercado e os polêmicos juros negativos.
Vários países da UE vêm tendo crescimentos bem lentos de produtividade no pós-crise, problema também enfrentado pelos Estados Unidos. O diagnóstico é diverso: há questões cíclicas (menos crédito) e estruturais (como a importância cada vez maior dos serviços), diz a EIU. Mas uma coisa é certa: em um cenário de população envelhecida e baixo investimento, segurar a produtividade será cada vez mais importante para trazer crescimento e melhora no padrão de vida.
7. Rússia: o desafio de segurança número umzoom_out_map
7/9(Spencer Platt/Getty Images)
A anexação da Crimeia e o conflito nas regiões do leste da Ucrânia estão no centro das tensões entre Europa e Rússia. "O establishment de criação de políticas russo está dominado pela visão de que a expansão da influência ocidental no espaço pós-soviético representa uma ameaça de primeira ordem para a Rússia", diz o relatório. O status quo atual, mantido por um plano de paz em fevereiro de 2015 e sanções, pode ser rompido mesmo se a Europa não se movimentar. O risco maior é que o bloco não consiga agir de forma unificada caso provocado e/ou que a Rússia reaja no caso de alguma outra ex-república soviética querer se aproximar dos vizinhos.
De acordo com a EIU, as democracias europeias estão em cheque - e o que vem por aí é "fragmentação política, volatilidade eleitoral e instabilidade governamental". Na Espanha, por exemplo, duas novas forças políticas - o Podemos, de esquerda radical, e o Ciudadanos, de centro liberal - despontaram na eleição de dezembro mas não houve acordo para formação de governo. Agora, uma nova eleição foi marcada. A decadência dos partidos tradicionais e sua desconexão com os eleitores se arrasta há décadas em nível continental e não dá nem para culpar a crise, já que isso tem acontecido em países muito diferentes entre si.
Luiz Marinho afirmou, contudo, que PEC em discussão na Câmara precisa ser debatida 'com cautela'; no início da semana, pasta defendeu negociação em convenção coletiva