Globo em pedras (Roland Fischer/Wikimedia Commons)
João Pedro Caleiro
Publicado em 2 de dezembro de 2014 às 10h41.
São Paulo - Dólar forte, petróleo fraco. Juros em alta, volatilidade em baixa. EUA de um lado, Europa de outro.
Em 2015, o Brasil terá que fazer sua lição de casa em meio a uma economia global pautada menos pela crise e mais por novos fenômenos.
O Goldman Sachs, um dos maiores grupos financeiros do mundo, divulgou um relatório antecipando as 10 tendências que vão moldar o comportamento macroeconômico e das ações no ano que vem. Veja quais são eles:
1. Uma recuperação em ampliação
Já virou praxe: desde a crise, a recuperação está sempre na próxima esquina, mas parece que nunca chega para valer. Há três anos, o FMI projetava que a economia global estaria crescendo 4,8% em 2015. Hoje, o número está mais próximo de 3,3%. Essa também é a média projetada pelo Goldman Sachs, levemente acima dos 3% estimados para 2014.
2. A divergência entre os desenvolvidos continua
Apesar de um ou outro recuo, a economia americana virou a "âncora mais forte da recuperação global". Enquando isso, Europa e Japão seguem decepcionando. O Morgan Stanley já havia avisado - o mundo está sem sincronia, e isso é bom porque permite a um lado atuar enquanto o outro recua.
"A divergência na política monetária vai ser estendida, com o Fed provavelmente começando seu ciclo de altas de juros em setembro, enquanto o Banco Central Europeu e o Banco do Japão continuam em seu caminho de relaxamento e expansão de balancete", diz o Goldman Sachs.
3. A nova ordem do petróleo
Nos últimos meses, o preço do petróleo despencou de mais de US$ 100 para menos de US$ 70 por barril. Nos últimos dias, o mercado passou a se perguntar se o preço atingiu um piso ou pode cair ainda mais.
A notícia é excelente para países importadores, que poderão usar o dinheiro economizado para outros fins, e devastadora para aqueles que dependem da venda do produto para fechar suas contas - exemplo de Venezuela, Irã e Rússia, que já não estavam em seus melhores dias.
4. A Inflação baixa (e a luta contra ela)
Enquanto no Brasil a inflação persiste no teto da meta em 6,5%, o que vai exigir remédios amargos, o problema em muitos países é exatamente oposto: inflação baixa demais ou até queda dos preços.
Sem alguma desvalorização da moeda, a dívida pública não perde valor relativo. Sem a expectativa de que os preços vão subir, os consumidores não tem incentivo para consumir agora. O Japão enfrenta há décadas este buraco negro deflacionário, e o medo é que a Europa esteja entrando pelo mesmo caminho.
5. O mercado do dólar em alta
Não é só em relação ao real que o dólar está se fortalecendo - o movimento é amplo e generalizado: "estamos em uma fase de vários anos de recuperação do dólar americano, na medida em que as forças que conduziram um longo período de fraqueza do dólar são revertidas, e o mercado pode estar subestimando a amplitude e a persistência desta tendência", diz o relatório.
O banco acredita que em 2017, um euro e um dólar valerão a mesma coisa - algo que não acontece há mais de uma década.
6. O Fed: mais tarde, mais íngreme, mais longe, mais calmo
Quando o banco central americano vai subir suas taxas de juros? Há anos que os investidores se fazem essa pergunta, cuja resposta mais provável parece agora ser uma data por volta de setembro de 2015.
Isso já está precificado no preço das ações - a dúvida agora é qual será o ritmo e intensidade das altas. O Goldman espera que as altas cheguem um pouco depois, mas com mais intensidade do que o mercado tem antecipado até agora.
7. A descida turbulenta da China continua
Em 2015, os mercados estarão "focados na flutuação mês a mês de atividade econômica e políticas" da China para entender até que ponto vai o "novo normal" do crescimento chinês e se o país conseguirá se adaptar a um novo modelo sem maiores problemas.
A volatilidade chinesa traz riscos, como uma maior queda das commodities, mas também oportunidades, como o amadurecimento de seu mercado consumidor.
8. Mercados emergentes: mais alívio, mais polarização
2013 e 2014 não foram fáceis para os países emergentes, com o aperto da liquidez global e o enfraquecimento da China. Segundo o Goldman Sachs, 2015 terá "mais polarização entre países que atacaram seus desequilíbrios macroeconômicos, e estão do lado da certo da divisão entre importadores e exportadores de petróleo, e aqueles que não o fizeram"
A má notícia: o Brasil está no segundo time e terá um ano de ajustes dolorosos - a começar pelo fiscal, já anunciado pela equipe econômica. Do outro lado, países como Turquia e Índia prometem boas surpresas.
9. Um mundo de baixa volatilidade - e seus desafios
"A volatilidade dos dados econômicos caiu para novos baixos (a 'Grande Re-Moderação'), o desemprego segue caindo de forma estável, as medidas macroprudenciais estão limitando a alavancagem e os desequilíbrios que terminam expansões ainda estão distantes", diz o relatório.
10. Vivendo em mundo de baixos retornos
Do ponto de vista do investimento, a mensagem do Goldman Sachs é clara: a baixa volatilidade e um certo consenso sobre os fundamentos do mercado fazem com que estejam faltando barganhas no mercado. Uma delas talvez seja as ações de alguns emergentes, atualmente mais caras do que a sua média de longo prazo faria supor.