Presidente Jair Bolsonaro com ministro da Economia, Paulo Guedes (Ueslei Marcelino/Reuters)
Fabiane Stefano
Publicado em 14 de abril de 2021 às 06h00.
Após semanas de tratativas acerca de um orçamento que, na prática, esqueceu da crise sanitária que o Brasil vive, nesta terça-feira (13) o executivo começou a estudar a proposta de uma PEC para destravar as despesas de combate à pandemia, supostamente resolvendo o impasse.
Apesar de não considerar os malabarismos matemáticos do governo como pedaladas fiscais, como defendem alguns, a economista Zeina Latif acredita que a melhor solução seria voltar à estaca zero e fazer um novo orçamento, mais realista e que atenda às necessidades da população.
"A criação desse orçamento assumiu que, para garantir algumas emendas, algumas despesas seriam reduzidas - o que ainda não aconteceu. E a boa prática da gestão do orçamento exige garantias que as estimativas vão de fato se concretizar", explicou a Latif no último episódio do podcast EXAME Política. "Numa soma geral, o orçamento, todo esse imbróglio, é uma soma de equívocos do governo, tanto do ponto de vista técnico quanto político."
Para a economista, a alta demanda por gastos públicos e a disparada de indicadores financeiros como a inflação e o câmbio deixam claro que há uma questão complicada por trás do orçamento. "Essa gestão fiscal temerária do governo já gera impactos macroeconômicos. Precisamos respeitar minimamente o espírito da lei de responsabilidade fiscal e o teto de gastos, se não perde-se o senso de disciplina fiscal", explicou Latif no podcast.
Para o parlamentar é infinitamente melhor ter dinheiro no bolso para fazer as suas obras do que fazer parte do governo cuja aprovação está em queda. Isso aumenta o desejo por emendas", continuou Latif. "A impressão que eu tenho é que, já que se está violando regras básicas das finanças públicas, o certo era enviar outro orçamento. Começa tudo de novo."
O erro crasso do governo, avalia Latif, foi ignorar os alertas de especialistas em relação à duração da pandemia - que, ao contrário do que previa a PEC emergencial aprovada no ano passado, claramente não se encerraria em dezembro de 2020. Ao apostar em um cenário de otimismo irreal, a equipe econômica deixou de se preparar para as dificuldades de 2021.
"Com uma crise dessa natureza, como não nos preparamos para 2021?", indagou a economista no EXAME Política, destacando que o Orçamento aprovado ignora as necessidades da população neste momento. "É um Orçamento desconectado das necessidades do país. Neste momento, as pessoas precisam ter o mínimo de socorro, assim como as empresas. No fundo, ele é um reflexo triste da má gestão da politica econômica e da má gestão da articulação politica."
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