Não há dúvidas de que o maior feito do Plano Real foi o controle da inflação (Getty Images)
Redação Exame
Publicado em 1 de julho de 2024 às 16h15.
*Roberto Mateus Ordine
O ano de 1994 foi marcado por momentos históricos como a morte do piloto tricampeão mundial de Fórmula 1, Ayrton Senna, a vitória do Brasil na Copa do Mundo dos Estados Unidos, depois de 24 anos de jejum e a criação do Plano Real.
Em meio às incertezas econômicas e uma crise hiperinflacionária, o país se viu diante de uma instabilidade financeira rumo ao colapso. Entretanto, com a criação do Plano Real, em 1994, trouxe estabilidade financeira e um cenário de esperança para a nação.
O Plano Real foi uma grande conquista do Brasil, estabilizou a economia do país e combateu a hiperinflação com a nova moeda. Porém, a medida foi um acerto cheio de desafios, que ao longo de seus 30 anos, tem representado uma moeda mais forte.
Não há dúvidas de que o maior feito do Plano Real foi o controle da inflação, que antes de sua implementação, às vésperas, chegou 5.000%. Diariamente os preços sofriam mudanças absurdas e a população se viu de mãos atadas e com seu poder de compra impedido.
Os serviços em geral e o comércio enfrentaram dificuldades no período inicial porque os salários estavam controlados, aumentou o desemprego no país, além de juros altos e restrições de crédito. É fato que as empresas menores sofreram mais porque o comércio passava por grande transformação com a vinda de empresas estrangeiras e a expansão de supermercados e shoppings. Depois dele, as medidas econômicas estabelecidas reduziram significativamente a inflação, o que favoreceu as vendas a prazo.
Os investidores estrangeiros que se sentiam inseguros em relação ao Brasil voltaram a acreditar no país e a balança comercial ganhou confiança do mercado externo. O Plano Real resgatou o país e alavancou o desenvolvimento econômico em diversos setores como a indústria, o comércio e a infraestrutura.
Para os empreendedores, o Plano Real proporcionou estabilidade e a possibilidade de realizar um planejamento financeiro. Previsibilidade é a palavra que define o Plano Real na visão do empreendedor, que depois do plano, conseguiu prever suas despesas, receitas, custos e preços com mais assertividade na gestão de seus negócios. O acesso ao crédito foi facilitado e menos dispendioso, com isso, as empresas do varejo, serviços e indústria puderam crescer e expandir seus negócios diante da nova economia.
Para manter um cenário promissor, desafios expressivos foram necessários como a política de juros elevados para conter a inflação, o que aumentou a dívida pública. Com isso, o governo deixou de investir em áreas como saúde, segurança e educação e podemos dizer que até hoje, 30 anos depois, estamos vivendo o reflexo da limitação de investimentos públicos nesses setores.
Com a economia estabilizada, as classes mais favorecidas obtiveram ganhos, em compensação, as classes mais baixas foram as que mais sofreram, e ainda sofrem. Embora na economia não exista jogo de soma zero em que para um enriquecer o outro tem que empobrecer. Isso não se sustenta.
Muito se avançou nesses 30 anos de Plano Real, podemos dizer que o Brasil se desenvolveu graças ao Real, mas ainda há muito o que ser feito. Há ainda as questões de dívida pública que precisam ser revistas e solucionadas.
Aprendemos muito nesses últimos 30 anos de Plano Real, principalmente no ambiente de negócios promovendo a competitividade e inovação das empresas. Entretanto, os desafios para um país continental ainda permanecem. A estabilidade econômica precisa estar alinhada às políticas de desenvolvimento sustentável para o crescimento país mais exitoso.
Hoje, celebramos não apenas a conquista de uma moeda forte e estável, mas também o espírito empreendedor que soube aproveitar as oportunidades abertas por esse importante marco na história do Brasil.
*Presidente da Associação Comercial de São Paulo