Economia

Opep reduz projeção de demanda global por petróleo em 2020

A organização também avisou que, se a situação atual de disseminação do Covid-19 persistir, novas diminuições estarão a caminho

Opep: discussões sobre corte na produção de petróleo derrubaram as bolsas nesta semana (Pramote Polyamate/Getty Images)

Opep: discussões sobre corte na produção de petróleo derrubaram as bolsas nesta semana (Pramote Polyamate/Getty Images)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 11 de março de 2020 às 14h29.

A Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) voltou a reduzir nesta quarta-feira, 11, sua projeção para o aumento da demanda global por petróleo este ano por causa do coronavírus e avisou: se a situação atual de disseminação do Covid-19 persistir, novas diminuições estarão a caminho. De acordo com o relatório mensal da entidade, que tem sede em Viena, divulgado nesta quarta, o crescimento do consumo foi ajustado de 990 mil barris por dia (bpd) para 920 mil bpd em 2020.

A mudança, conforme a instituição, reflete a perspectiva de uma expansão econômica global mais lenta, associada a uma proliferação do vírus para além da China. "O impacto do surto de Covid-19 na China e seus impactos adversos no transporte e combustíveis industriais foram as principais causas dessa revisão em baixa", explicou.

A Organização também presumiu que o surto deve afetar "severamente" o crescimento da demanda de petróleo em vários outros países e regiões fora do gigante asiático, onde a doença teve origem. Entre os países que devem sofrer com a epidemia estão Japão, Coreia do Sul, membros europeus da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e Oriente Médio. Isso levou a uma revisão para baixo também nessas regiões, conforme a Opep.

A demanda global total de petróleo agora é projetada em 99,73 milhões de barris por dia em 2020, com a expectativa de que o consumo no segundo semestre seja maior do que nos primeiros seis meses do ano. Para 2019, o crescimento da demanda mundial de petróleo em 2019 também foi revisado para baixo, para 830 mil bpd.

Neste caso, o ajuste refletiu principalmente dados mais fracos do que o esperado nas economias americanas que fazem parte da OCDE. "Considerando o mais recente desenvolvimento, os riscos descendentes atualmente superam quaisquer indicadores positivos e sugerem mais prováveis revisões descendentes no crescimento da demanda de petróleo, caso o status atual persista."

Integrantes de fora da Opep

A Opep também fez uma forte revisão para baixo das suas projeções de crescimento da oferta da commodity em 2020 pelos produtores que não fazem parte do cartel. De acordo com o relatório mensal, a expansão do suprimento por esses países será de 1,76 milhão de bpd, e não mais de 2,25 milhões de bpd como projetava no mês passado.

"A projeção sofreu mudanças em função da produção elevada principalmente na Rússia, Tailândia, Indonésia e Omã, enquanto nos Estados Unidos, China, México, Colômbia, Noruega, Azerbaijão e Malásia houve revisão para baixo", detalhou a entidade.

O crescimento da produção de líquidos nos EUA em 2020 foi alterado em 360 mil bpd para 900 mil bpd. Mesmo assim, de acordo com a Organização, o país deve impulsionar o crescimento ao longo do ano fora da Opep, juntamente com Brasil, Noruega, Canadá, Guiana e Austrália, enquanto México, Colômbia, Egito e China.

Já para 2019, a projeção de aumento do fornecimento de petróleo fora da Opep foi ampliada de 1,88 milhão de bpd para 1,99 milhão de bpd. A instituição observou que o Equador passou a fazer parte do grupo a partir de agora.

Brasil

A Opep também previu em seu relatório mensal que a produção brasileira de commodity este ano será de 3,85 milhões de bpd. Segundo o documento, não houve alteração em relação à projeção anterior, mas na ocasião o Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado) registrou que a entidade que tem sede em Viena havia elevado sua estimativa de oferta doméstica de 3,79 milhões de bpd para 3,81 milhões de bpd.

A manutenção anual de plataformas deve desacelerar o crescimento do suprimento ao longo do segundo e terceiro trimestres, de acordo com a Organização.

O relatório também salientou que a federação trabalhista da indústria petrolífera do Brasil (FUP) prometeu manter uma greve em desafio a uma decisão do tribunal do trabalho de 17 de fevereiro em favor da estatal Petrobras, que pode afetar a produção de petróleo no mês de fevereiro.

A Opep comentou que cerca de 21 mil trabalhadores participam da greve, impactando as operações em 11 refinarias e 57 plataformas entre outras instalações, de acordo com a FUP.

Em relação a 2019, o documento conta que a estimativa para a produção de líquidos pelo Brasil tenha aumentado em 230 mil bpd, para uma média de 3,54 milhões de bpd. Neste caso, a entidade salientou que houve uma revisão ascendente da produção de biocombustíveis no País.

A produção brasileira de petróleo bruto em janeiro aumentou em 61 mil barris por dia na comparação com dezembro do ano passado, para uma média de 3,17 milhões de bpd. A Opep destacou que este é o terceiro registro mensal consecutivo com abastecimento superior a 3 milhões de bpd, o que mostra um crescimento robusto anual de 540 mil bpd, principalmente proveniente de campos do pré-sal, incluindo Lula e Búzios.

A Organização comentou, no entanto, que o crescimento robusto do horizonte do pré-sal na Bacia de Santos no primeiro mês de 2020 foi parcialmente compensado por fortes quedas relatadas em campos localizados em reservatórios do pós-sal na Bacia de Campos, particularmente no campo de Roncador.

Essa diminuição seria de cerca de 190 mil bpd, uma baixa de mais de 17% em relação ao mesmo mês do ano passado. Em janeiro, a produção total de líquidos no Brasil, incluindo biocombustíveis, aumentou em 30 mil bpd, para média de 3,90 milhões de bpd, superior em 530 mil bpd aos dados do mesmo mês de 2019.

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