Economia

Onde a 5ª queda consecutiva da renda já está sendo sentida

Julho apresentou o 5º recuo seguido da renda média do trabalhador – e o varejo dá sinais de que está sentindo o tranco

Mulher ajeita sapatos da vitrine de uma loja no Shopping Morumbi, em São Paulo (Mauricio Piffer/Bloomberg)

Mulher ajeita sapatos da vitrine de uma loja no Shopping Morumbi, em São Paulo (Mauricio Piffer/Bloomberg)

João Pedro Caleiro

João Pedro Caleiro

Publicado em 23 de agosto de 2013 às 16h21.

São Paulo – Nesta quinta-feira, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgou que a renda média do trabalhador brasileiro foi para 1.848,40 reais em julho. Em relação a julho de 2012, houve crescimento foi de 1,5%, mas em termos mensais, é a 5ª queda seguida. O recuo foi de 0,9% em relação a junho e de 1,7% em relação a fevereiro, quando a renda média era de 1.881,25 reais.

Um dos motivos para isso é que os reajustes salariais têm sido menores. De acordo com dados do Dieese, 84,5% das negociações no primeiro semestre renderam aumentos acima da taxa de inflação. No mesmo período do ano passado, a proporção era de 96,3%.

O recuo da renda nos últimos seis meses é mais um dado em um cenário econômico pouco animador. Em julho, a inflação bateu 6,27% no acumulado de 12 meses – quase no teto da meta do governo, de 6,5%.

Apesar de ter sido de apenas 0,03% no mês, ela deve sentir a partir de agora um maior efeito do repasse cambial devido à alta do dólar. O ministro da Fazenda Guido Mantega já diminuiu sua projeção de crescimento para 2013 de 3,5% para 2,5%, enquanto os economistas do boletim Focus projetam 2,21%.

Setores

A queda na renda ainda é recente, e é difícil isolar seu efeito em meio à inflação e a desaceleração econômica geral. No entanto, os últimos meses mostraram indícios negativos no setor naturalmente mais afetado pela queda na renda do trabalhador: o varejo.


Em junho, as vendas do varejo cresceram 1,7% em relação ao mesmo mês – o menor aumento desde 2003. As vendas do setor de “tecidos, vestuário e calçados” caíram 3,2% em relação ao mesmo mês no ano passado. No segmento de “hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo”, a queda foi de 0,8%.

No semestre, o crescimento do varejo ficou em 3% em relação ao mesmo período de 2012, a pior taxa desde a segunda metade de 2005. Grandes varejistas como Pão de Açúcar e Renner já estão se movimentando para compensar com cortes de despesas e diversificação as receitas menores com o baixo crescimento 

De acordo com a Confederação Nacional dos Dirigentes Lojistas (CNDL) e o Serviço de Proteção ao Crédito, o último dia dos pais teve o pior resultado de crescimento em três anos. As vendas a prazo para a data subiram 10% em 2010, 6,86% em 2011, 4,75% em 2012 e 3,78% em 2013.

Números da Serasa Experian mostram que também houve um aumento no volume de cheques sem fundo, que pularam de 1,94% em junho para 2,03% em julho, acima dos 2% no mesmo mês do ano passado. Já as vendas de veículos novos em julho caíram 6% em relação a julho do ano passado, de acordo com dados da Anfavea.

Por outro lado, o desemprego foi para 5,6% em julho, a primeira queda do ano, apesar da geração de empregos para o mês ter sido a pior desde 2003.

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