Em 2023, se os riscos de queda se materializarem, o crescimento do comércio poderá ser negativo (-2,8%), mas se houver boas notícias, poderá chegar a 4,6% (Denis Balibouse/Reuters)
Estadão Conteúdo
Publicado em 5 de outubro de 2022 às 11h43.
A Organização Mundial do Comércio (OMC) reduziu acentuadamente nesta quarta-feira (5) a previsão de crescimento do comércio mundial para 2023, em uma economia globalmente afetada por múltiplos choques, como a guerra na Ucrânia e restrições monetárias.
"As perspectivas para 2023 se degradaram consideravelmente", disse a diretora-geral da OMC, Ngozi Okonjo-Iweala, ao apresentar as previsões à imprensa.
"A economia mundial enfrenta múltiplas crises. O aumento das taxas de juros pesa sobre o crescimento em grande parte do mundo", acrescentou.
Os economistas da OMC esperam um crescimento do volume do comércio mundial de mercadorias de 3,5% em 2022 - um pouco maior do que o aumento de 3,0% previsto em abril, mas projetam um aumento de 1,0% para 2023 - número muito abaixo da estimativa anterior de 3,4% publicada em abril.
De acordo com as novas previsões da OMC, o PIB mundial deverá crescer 2,8% em 2022 e 2,3% em 2023 (1,0 ponto percentual a menos que a previsão anterior para este último valor).
Em comparação, a OCDE, que manteve sua previsão em 3% para 2022, anunciou recentemente que espera um crescimento de 2,2% no próximo ano.
O FMI, por sua vez, espera um crescimento de 3,2% neste ano e de 2,9% em 2023.
Se as previsões atuais da instituição se confirmarem, o crescimento do comércio desacelerará drasticamente em 2023, mas continuará positivo.
No entanto, a OMC observa que há "grande incerteza sobre as previsões devido à mudança na política monetária nas economias avançadas e ao caráter imprevisível da guerra lançada pela Rússia na Ucrânia", segundo o economista deste órgão, Coleman Nee.
Somam-se a isso os "desafios que as políticas monetária e orçamentária enfrentam", diz ele.
Em 2023, se os riscos de queda se materializarem, o crescimento do comércio poderá ser negativo (-2,8%), mas se houver boas notícias, poderá chegar a 4,6%, segundo a OMC.
Na semana passada, Okonjo-Iweala afirmou que o mundo caminhava para uma "recessão global".
"Os líderes políticos enfrentam dilemas difíceis na busca de um equilíbrio ideal entre combater a inflação, manter o emprego e alcançar metas importantes, como a transição para a energia limpa", afirmou nesta quarta-feira.
No entanto, "uma redução nas cadeias de suprimentos só agravaria as pressões inflacionárias, levando a uma desaceleração do crescimento econômico e a uma redução nos padrões de vida no longo prazo", alertou.
A demanda de importações cairá em todo o mundo pelo efeito da desaceleração do crescimento, por sua vez causada por diversos fatores nas grandes economias.
Na Europa, o aumento dos preços da energia como resultado da guerra na Ucrânia provocará uma compressão dos gastos das famílias e um aumento dos custos no setor manufatureiro, detalha a OMC.
Nos Estados Unidos, o endurecimento da política monetária terá repercussões nos gastos sensíveis às taxas de juros, como os setores de habitação, automóveis e investimentos em ações fixas.
A China continua enfrentando novos surtos de covid-19 e interrupções na produção associadas à fraca demanda externa, continua a OMC.
Em suma, o aumento da conta de importações de combustíveis, alimentos e fertilizantes poderia gerar insegurança alimentar e aumento da dívida nos países em desenvolvimento.
A OMC também destaca que um aperto excessivo da política monetária pode causar recessão em alguns países.
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