Chefe da diplomacia europeia, Catherine Ashton: Yanukovytch terá oportunidade de abordar pretensões ocidentais com a própria Ashton, que viajará na terça para Kiev (AFP)
Da Redação
Publicado em 3 de fevereiro de 2014 às 18h26.
O Ocidente estudava nesta segunda-feira a concessão de um pacote de ajuda econômica à Ucrânia, enquanto a oposição ucraniana se prepara para pedir ao Parlamento uma anistia incondicional e uma reforma constitucional.
Depois da decisão do presidente Viktor Yanukovytch de não assinar um acordo de associação com a União Europeia, no final de novembro, a Ucrânia mergulhou em sua pior crise desde a independência.
A União Europeia avalia junto com os Estados Unidos e o Fundo Monetário Internacional (FMI) uma maneira de ajudar financeiramente o país, desde que Kiev se comprometa com o fim da violência e com a realização de reformas, anunciaram nesta segunda-feira os serviços da chefe da diplomacia europeia, Catherine Ashton.
Este "Plano ucraniano" deve englobar diferentes setores da economia "para melhorar as coisas", segundo Ashton, que acrescenta que os "números não serão modestos", citando a possibilidade de oferecer garantias financeiras, ajuda a investidores ou ainda o apoio à moeda ucraniana para garantir a sua estabilidade.
Essa oferta daria aos líderes de Kiev uma alternativa à ajuda econômica fornecida por Moscou, que colocou sobre a mesa 15 bilhões de dólares em créditos e uma redução significativa do preço do gás.
A Rússia não reagiu até o momento a esse anúncio, mas lançou uma advertência à oposição ucraniana, pedindo que renuncie às ameaças e ultimatos.
"A Rússia está muito preocupada com a aspiração das forças de oposição ucraniana de fazer com que a situação se deteriore ainda mais no país", afirmou o Ministério russo das Relações Exteriores, lembrando que um opositor pediu a criação de "unidades de autodefesa".
As autoridades ucranianas também não se manifestaram.
"Não posso comentar essas declarações, porque não posso confirmá-las. Ninguém falou comigo", limitou-se a dizer o ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Léonid Kojara, durante uma coletiva de imprensa.
"Ao longo das negociações (sobre um acordo de associação), a UE nunca indicou que tipo de ajuda forneceria à Ucrânia", afirmou o ministro.
Difícil superar a oferta russa
Em uma entrevista publicada nesta segunda-feira no Wall Street Journal, Ashton não deu indicações sobre o eventual fundo.
Moscou, que já entregou 3 bilhões em ajuda, advertiu que a concessão do restante dependerá da situação política do futuro governo ucraniano.
Mas Yanukovytch terá a oportunidade de abordar as pretensões ocidentais com a própria Catherine Ashton, que viajará na terça para Kiev, onde se reunirá com a oposição e com as autoridades ucranianas, segundo indicou em Bruxelas sua porta-voz Maja Kocijancic.
Já Washington confirmou que mantém contatos com a União Europeia para elaborar um pacote de ajuda financeira para a Ucrânia.
"Permita-me ser clara, isto está em uma etapa muito preliminar. Estamos em consultas com a UE (...) e com outros sócios sobre a assistência que pode ser necessária para a Ucrânia depois da formação de um novo governo", após a renúncia em bloco do gabinete na semana passada, disse aos jornalistas a porta-voz do Departamento de Estado, Jen Psaki.
Nesta segunda, depois de um silêncio de quatro dias justificado por motivos de saúde, Yanukovytch aproveitou o dia para participar de uma "mesa redonda", na qual denunciou o "extremismo" dos manifestantes e acusou a oposição "de incitação ao ódio", motivada por uma "luta pela queda do poder", sem citar nomes.
Nos próximos dias, ele deverá assistir aos Jogos Olímpicos de Inverno de Sochi, segundo seu ministro das Relações Exteriores.
Os Jogos começam no dia 7 de fevereiro.
Já o Parlamento ucraniano retoma na terça-feira os seus trabalhos. A oposição deve aproveitar a ocasião para propor uma lei de anistia aos manifestantes detidos.
A oposição também pretende promover uma reforma constitucional e resgatar Lei Fundamental de 2004, resultado da Revolução Laranja pró-ocidental e que limita dos poderes do chefe de Estado.
Em Paris, o presidente François Hollande fez um apelo "ao diálogo e a uma solução política" na Ucrânia, considerando que a situação é "grave" e exige "a maior vigilância".