Barack Obama: presidente dos EUA sustentou que a disputa em torno do orçamento e da dívida em Washington não deixou vencedores (AFP)
Da Redação
Publicado em 17 de outubro de 2013 às 15h44.
Washington - O fechamento dos serviços públicos terminou nos Estados Unidos nesta quinta-feira, após um acordo alcançado no Congresso, que também afastou o risco de calote. Mas a solução provisória pode ser o preâmbulo de novos conflitos políticos.
Novecentos mil funcionários públicos federais voltaram ao trabalho na manhã desta quinta-feira após 16 dias de férias forçadas não remuneradas, devido à incapacidade do Congresso, dividido entre democratas e republicanos, de aprovar uma lei de orçamento no prazo.
A situação foi desbloqueada na quarta-feira em meio à pressão sobre os legisladores da oposição para que aceitassem um acordo dentro do prazo limite, evitando assim que os Estados Unidos entrassem em zona de risco de default, o que iria ocorrer pela primeira vez em sua história.
Os chefes de bancada do Senado, controlado pelos democratas de Barack Obama, alcançaram um acordo sobre os dois temas: o orçamento e o aumento do limite legal de endividamento, sem o qual este país, altamente dependente da emissão de dívida para se financiar, não teria podido enfrentar suas obrigações.
Apelo de Obama
O presidente Barack Obama disse nesta quinta-feira que as crises nos Estados Unidos encorajam os inimigos do país e desiludem seus aliados, e sustentou que a disputa em torno do orçamento e da dívida em Washington não deixou vencedores.
Obama fez um apelo para que os políticos do Congresso se unissem para aprovar um projeto de lei de orçamento de longo prazo e deixassem de lado suas divergências, que ameaçam a economia e sua credibilidade diante dos americanos.
"Houve muitas discussões sobre o custo político desta paralisia dos serviços", afirmou Obama em uma audiência na Casa Branca. "Mas sejamos claros. Não há vencedores. Estas últimas semanas causaram um dano completamente desnecessário a nossa economia", acrescentou.
"Provavelmente nada danificou mais a credibilidade dos Estados Unidos no mundo, nosso prestígio ante outros países, do que o espetáculo que vimos nas últimas semanas", disse Obama.
"Isso encorajou nossos inimigos, fortaleceu nossos competidores e decepcionou nossos amigos que exigem de nós uma firme liderança", concluiu.
O balanço de duas semanas de disputa
Depois de exigir durante duas semanas concessões e cortes nos gastos em programas sociais, os republicanos, com seu presidente John Boehner na liderança, aceitaram que a derrota e não bloquearam o acordo alcançado pelo Senado, que foi promulgado em lei por Obama na madrugada desta quinta-feira.
Trata-se, no entanto, de uma saída provisória: o teto da dívida subiu até 7 de fevereiro de 2014 e a lei de orçamento estará em vigor até 15 de janeiro.
Antes destas datas, os dois grupos deverão buscar novos acordos sobre os mesmos temas.
Uma comissão bicameral será convocada, segundo a lei aprovada, para elaborar antes de 13 de dezembro um orçamento para o resto do ano fiscal 2014.
Um mecanismo similar de supercomissão não conseguiu entrar em acordo em 2011 e o resultado foram cortes de gastos públicos que ainda estão em vigor.
Um pobre balanço legislativo
Esse é outro problema que se soma à lentidão da recuperação econômica após a crise de 2008.
Duas semanas de paralisia de serviços públicos pioraram levemente as coisas: segundo a agência de classificação Standard and Poor's, o fechamento de serviços custará 0,6% ao crescimento dos Estados Unidos no quarto trimestre, o equivalente a 24 bilhões de dólares.
Quase um ano depois de sua reeleição, o balanço legislativo para o segundo mandato de Obama é mínimo, em meio ao seu confronto frontal com os republicanos.
A oposição se opõe a qualquer aumento de impostos, algo que Obama prometeu durante sua campanha. Para ela, a redução do déficit público passa por um corte de gastos, principalmente sociais.
Nesta quinta-feira, Obama fez um apelo para que o Congresso, especificamente seus rivais republicanos, avance em leis estancadas sobre agricultura e reforma migratória.
Na quarta-feira, ele havia dito que a classe política tem pela frente o desafio de recuperar a confiança dos americanos.
Os republicanos bloquearam nos últimos meses todos os grandes projetos de Obama, de uma reforma fiscal a um projeto de lei sobre controle de armas, em um país onde os massacres por armas de fogo em locais públicos são frequentes.