Quando vejo os cortes nos orçamentos em ciência acredito que estamos cometendo um grave erro, disse Obama (Rob Carr/Reuters)
EFE
Publicado em 6 de julho de 2018 às 12h31.
Madri - O ex-presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, criticou nesta sexta-feira a "falta de interesse" do governo de seu sucessor, Donald Trump, no investimento em ciência e na luta contra a mudança climática, mas considerou que, apesar de tudo, organizações, empresas e outros países do mundo continuam respeitando o Acordo de Paris.
Obama ofereceu hoje em Madri, na Espanha, uma conferência dentro da programação da Cúpula de Inovação tecnológica e Economia Circular, na qual falou sobre a importância de formar jovens para encarar um futuro em um mundo em transformação, no qual as novas tecnologias ocupam um papel cada vez mais importante.
"Quando vejo os cortes nos orçamentos em ciência acredito que estamos cometendo um grave erro", afirmou o ex-presidente americano, que se mostrou orgulhoso de ter conseguido restabelecer a ciência como parte importante das políticas desenvolvidas durante o seu mandato.
"O investimento em ciência e a luta contra a mudança climática são alguns dos desafios que temos que enfrentar. Só temos 20 ou 30 anos para poder aplicar novos modelos de energia antes que chegue o aquecimento global", acrescentou o ex-presidente.
Obama reiterou que, apesar da "falta de interesse" do governo Trump por essas duas questões, as empresas e ONGs "abraçaram o movimento iniciado em 2010, e os países do mundo respeitaram o Acordo de Paris e as metas estipuladas, incorporando tecnologias sustentáveis às suas economias e reduzindo a emissão de gases do efeito estufa ".
"Estamos em uma transição de uma economia antiga para uma nova, em um mundo que está cada vez mais inter-relacionado, com grandes avanços em nível tecnológico em uma margem de dez anos, e essas mudanças rápidas afetam as instituições sociais e políticas", disse o ex-presidente dos EUA.
Para Obama, a maioria dos governos e instituições "não está pronta para as mudanças atuais na economia", na qual "poucos gerenciam a riqueza porque podem utilizar tecnologia para melhorar seus mercados" e, nesse sentido, "alguns ficarão para trás".
"É preciso encontrar maneiras para encorajar a próxima geração de líderes a organizar novas sociedades, que tomem o controle das novas forças. É preciso pensar em formar para que o poder da tecnologia não acabe gerando divisões, mas seja benéfico para todos", afirmou o ex-presidente.
Obama também alertou sobre as mudanças que as democracias ocidentais estão experimentando, entre as quais o fato de "já não existir nenhum ponto em comum que transcenda as diferenças", o que torna mais difícil manter a unidade entre países que "cada vez ficam mais diferentes".
"O que me preocupa é que os políticos não estão tentando aproximar as pessoas em torno de valores comuns, mas dividi-las e explorá-las com base na religião ou na raça", disse Obama em referência à crise migratória em nível mundial e, concretamente, à região do Mar Mediterrâneo e à fronteira dos EUA com o México.
"Por isso, os Estados Unidos são um experimento tão importante, porque, quase por definição, todos chegaram de outros países. São de origens distintas, mas compartilham certos princípios. Aprendem e se adaptam às normas e, nas segundas e terceiras gerações, se sentem americanos", comentou o ex-presidente.
Para Obama, essa capacidade de integração "foi uma grande força" de seu país, em um mundo "que exige o reconhecimento de uma humanidade comum", algo que às vezes é difícil de ver.
Por isso, Obama encorajou de novo as novas gerações a se envolverem nas democracias com "persistência, paciência, audácia, imaginação e esperança".