Petróleo (Thinkstock/Thinkstock)
João Pedro Caleiro
Publicado em 10 de dezembro de 2017 às 08h00.
Última atualização em 10 de dezembro de 2017 às 08h00.
São Paulo - 60% dos brasileiros acham que o Brasil têm condições de substituir os combustíveis fósseis, mas apenas 37% acreditam que o país fará este movimento.
Os dados são de uma pesquisa realizada em outubro com 3 mil brasileiros de todas as regiões do país e antecipada com exclusividade para o site EXAME.
A pesquisa foi feita pelo Ideia Big Data por encomenda de duas instituições: o Instituto Clima e Sociedade, organização filantrópica que apoia projetos sobre mudanças climáticas, e o Instituto Escolhas, think tank que promove estudos econômicos sobre questões socioambientais.
Uma grande maioria dos entrevistados defende que o consumo de gasolina, por exemplo, deve ser reduzido um pouco (33,9%) ou muito (45,6%).
Mas quando a pergunta se torna sobre eletricidade, biocombustíveis e gás natural, a coisa se inverte e a posição majoritária é de que o consumo deveria crescer.
O desejo de favorecer combustíveis mais limpos em detrimento dos mais poluentes encontra mais apoio entre os mais jovens (16 a 34 anos), com maior nível de escolaridade e de classe social mais alta.
O impacto dos derivados do petróleo é entendido como negativo sobre a qualidade do ar (85% dos entrevistados), na mudança climática (82%) e na qualidade da água (77%).
"A população entende as consequências negativas do petróleo sobre suas vidas, o que deveria servir para reafirmar a necessidade de o Brasil iniciar imediatamente a transição para uma economia descarbonizada”, diz Sergio Leitão, diretor executivo do Instituto Escolhas, em nota à imprensa.
90% dos entrevistados disseram ser a favor de manter o máximo possível de nossas atuais reservas de petróleo no solo para não contribuir com a mudança do clima.
Mas quando a pergunta é sobre o impacto na economia brasileira, a divisão é mais equilibrada: 55% avaliam os combustíveis fosseis como negativos e 38% como positivos.
A mesma dissonância acontece em relação às empresas petrolíferas. A maioria as classifica como gananciosas (88%), politicamente poderosas (87,3%) e sem ética (72%), mas reconhece que estas empresas são vitais para a nossa economia (69%) e uma grande fonte de empregos no país (73%).
A pesquisa é uma reprodução adaptada de uma pesquisa americana promovida pela Oil Transportation Research and Intelligence Network.
Incentivos
80% dos entrevistados se mostraram favoráveis ao fim dos incentivos, subsídios e isenções fiscais às companhias de petróleo.
A questão voltou à pauta com a aprovação na Câmara dos Deputados, no último dia 06 de dezembro, do texto-base da Medida Provisória 795/17, que agora segue para o Senado.
A medida suspende até 2040 os tributos cobrados a bens destinados a atividades de exploração, desenvolvimento e produção de petróleo e gás natural que permanecerem no Brasil de forma definitiva.
A MP foi editada em agosto para incentivar a participação de companhias estrangeiras nos últimos leilões do pré-sal.
Segundo o governo, os impostos brasileiros “não estão compatíveis com os percentuais adotados por outros países” e foram ajustados pela MP “para manter a segurança jurídica”.
A medida recebeu críticas pela perda de arrecadação (R$ 1 trilhão em 30 anos, segundo o deputado Carlos Zarattini do PT de São Paulo), possíveis prejuízos para a indústria nacional e efeito negativo sobre o meio ambiente.
"A decisão vai na contramão de um processo global de descarbonizar a economia", diz Walter Figueiredo De Simoni, coordenador de Mobilidade Urbana do Instituto Clima e Sociedade, em nota.
“O Brasil, país dos biocombustíveis e do etanol, se beneficiaria de um mundo de baixo carbono, mas mesmo assim assina seu casamento com uma indústria que tem seus dias contados", completa.